“É um trabalho que não enriquece, mas que traz muita felicidade. Junta o
útil ao agradável, o ofício ao prazer.” É assim que a artesã Ozinete da
Costa Silva define sua participação no Grupo Arte e Ação, do bairro do
Cristo Redentor, em
João Pessoa.
O grupo existe há quatro anos e reúne costureiras, bordadeiras,
crocheteiras e outras artes manuais desenvolvidas em oficinas semanais
no Centro de Referência da Cidadania (CRC), da Prefeitura Municipal de
João Pessoa (PMJP).
O Arte e Ação faz parte de um conjunto de 54 grupos de artesãs e
artesãos existentes em 14 bairros da cidade, envolvendo uma média de 350
pessoas. Eles são acompanhados pela Secretaria de Desenvolvimento
Social (Sedes), nos moldes da Economia Solidária, por meio da Diretoria
de Economia Solidária Segurança Alimentar e Nutricional (Dessan).
A PMJP realiza esse trabalho há mais de seis anos e, segundo explica a
coordenadora de Economia Solidária, Cristina Daniel, é desenvolvido por
meio de uma política de valorização e qualificação e do apoio a grupos
informais e unidades produtivas de consumo solidário. “É uma forma de
organização econômica que envolve a prática de produção e consumocom
base na autogestão, na justiça social e no cuidado com o meio
ambiente e as gerações futuras”, destaca.
O trabalho da Dessan consiste em acompanhar e assessorar os grupos em visitas aos locais de produção,
ofertar
cursos e participação em encontros e estimular a inserção nos encontros
de Economia Solidária municipal e estadual. Nos espaços formativos,
busca-se a sensibilização para os princípios da inclusão social,
democracia, crescimento sustentável, consumo crítico, comércio justo,
paz entre os seres, solidariedade, autogestão e cooperação.
Fundo Solidário – Segundo Josalba Lira, que coordena o acompanhamento
aos grupos, dentro da ação está prevista a prática do Fundo Solidário,
que consiste em dividir o dinheiro arrecadado igualitariamente entre
todos os componentes. Mas, atualmente, nem todos os grupos envolvidos
praticam a Economia Solidária seguindo todos os seus princípios. “Alguns
cumprem com os princípios de organização para a produção, outros apenas
para a comercialização. No momento, poucos atingem a organização nas
duas fases”, diz.
A seleção de pessoas ou grupos se dá de acordo com a demanda que chega
ao setor. “A partir daí, são traçados os perfis dos grupos. Permanecem
no processo conforme cumpram com os critérios e as normas do trabalho”,
explica Cristina.
Grupos de produção – Quem, em João Pessoa, ainda não visitou, não
comprou uma lembrancinha, ou não tem em casa um artigo que tenha sido
comprado na Feira Solidária? A Feirinha de Artesanato, como é conhecida
pela população, é temporariamente instalada, de forma itinerante, em
pontos
turísticos estratégicos da cidade, desde dezembro do ano passado.
É ali que os integrantes dos grupos conseguem escoar a produção do
cotidiano. O espaço é próprio para a divulgação, venda e, na maioria das
vezes, o pedido de encomendas para grandes eventos. As modalidades de
produção são confecções, vestuários, bijuterias e artesanatos diversos.
Nova vida – Ozinete diz que sempre trabalhou com costura, mas foi no
grupo que ela descobriu o exercício da solidariedade, a integração e a
convivência em sociedade. “É um momento prazeroso. Enquanto trabalhamos,
rimos e choramos, dividimos nossas alegrias e dores. Todos se ajudam
aqui”, destaca.
A artesã Fátima Mendonça é do Grupo Cozinha e Arte, do Bairro dos
Novaes. Ela diz que encontrou no grupo uma razão para viver. “Vivia
fazendo minhas pinturas em casa, sozinha, era doente, deprimida e
triste. Hoje vivo pintando, bordando, trabalhando com fita e linha,
aprendendo e ensinando, além de vender meus produtos o tempo todo. É
gratificante estar junto, participando, ajudando. Não sabia que daria
tão certo”, conta ela.
O Grupo Retalhos a Fio, do Ernesto Geisel, é um dos mais antigos. A
artesã Edileuza Brandão de Mendonça diz que, antes, era a maior
dificuldade vender os produtos. “Fazíamos o artesanato e ficava tudo em
casa. Hoje, participamos de feiras e complementamos o salário – isso
ajuda muito, principalmente nas festas de final de ano. Estamos no céu”,
elogia.
Todas reconhecem que a luta é pelo aprimoramento do produto, já visando a
Copa do Mundo. “O produto de melhor qualidade chama a atenção do
cliente. Estamos nos preparando, já discutindo a produção para a Copa no
Brasil. Até lá, com certeza, estaremos bastante organizadas”, revela
Edileuza.
Vendas animam – Em menos de um ano de funcionamento, a Ferinha Solidária
comercializou mais de R$ 131 mil em exposições esporádicas. A última
novidade é a parceria com a Fundação de Cultura de João Pessoa
(Funjope), que abriu espaço para a exposição aos sábados, durante a
realização do projeto Sabadinho Bom, na Praça Rio Branco.
Segundo Aline Martins Barroca, diretora da Dessan, a Sedes acompanha os
Grupos de Produção com apoio a microcréditos, capacitações, Economia
Solidária, organização e comercialização dos produtos. “Acreditamos no
potencial destes grupos, pois todos produzem um artesanato de boa
qualidade e beleza”, destaca.
Ela diz ainda que o crescimento profissional e pessoal dos artesãos
apoiados pela PMJP estimulam a Dessan a lutar por mais políticas
públicas que os favoreçam.