segunda-feira, 24 de abril de 2017

PORTUGAL NÃO FAZ O CONSUMO CONSCIENTE

O Observatório do Consumo Consciente constitui-se como uma base permanente para a avaliação da evolução do consumo consciente em Portugal, tendo realizado em 2016 o segundo estudo que avalia os seguintes indicadores individuais: Atitudes e preocupação ambiental e social, Comportamentos de consumo e sustentáveis, Mobilidade, Residência e Caracterização socio-demográfica.
Da responsabilidade do Fórum do Consumo, uma associação de profissionais dedicados ao debate construtivo e ao estudo do fenómeno do consumo e das relações estabelecidas entre consumidores, profissionais e empresas da produção, da distribuição e dos serviços, este estudo irá ter no final de 2017 a sua terceira edição.
Realizado em parceria com a GFK, o IADE e a Universidade Lusófona, os dados de 2015 e 2016 apresentam alguns dados preocupantes que têm sido alvo de análise. Segundo José Rousseau, docente universitário e presidente do Fórum do Consumo “Continua a existir um desconhecimento generalizado na sociedade portuguesa sobre a temática do Consumo Consciente nas suas vertentes de consumo sustentável, responsável e solidário. Este nosso grande estudo que envolve cerca de 1200 famílias portuguesas e uma bateria de 50 questões dá-nos finalmente um retrato objetivo, rigoroso e atual dos comportamentos dos portugueses no que concerne às suas práticas e atitudes de consumo consciente”.
Em 2016, 55% dos portugueses considerou que a situação económica do país estava um pouco melhor, face aos dados de 2015 (42%). E uma vez que a atitude é mais positiva, a expectativa para a evolução económica também é maior. No entanto, 90% dos portugueses continua a mostrar-se preocupada com a situação económica atual.
Quando analisadas as atitudes e preocupações ambiental e social, quer em 2015, quer em 2016, 80% dos portugueses mostram-se preocupados com as alterações climáticas, sendo a cidade do Porto a que apresenta os maiores valores de preocupação. É também interessante perceber que esta atitude é inferior nos mais novos (15 a 24 anos), com pouco mais de 24%. O aumento da população mundial não é um factor de grande preocupação, com quase 25% sem opinião sobre o assunto. No entanto, de 2015 para 2016, quando analisada a preocupação de, como sociedade, precisarmos de reduzir muito os níveis de consumo para melhorar o ambiente para as gerações futuras, o aumento é de 5% na resposta concordo/concordo totalmente, com 84,4%. Mas apesar desta preocupação, em 2016 pouco mais de 20% dos inquiridos afirmou estar disposto a pagar mais por um produto com menos impacto ambiental ou a pagar uma taxa. Valores sem grande evolução desde 2015. Ainda assim, cerca de 70% tem a opinião unânime que os problemas ambientais irão ter um impacto na sua vida, sendo que mais de 50% admite mesmo que pouco pode fazer face a isto. Se aliarmos o desenvolvimento tecnológico para a resolução dos problemas ambientais, 70% discorda desta afirmação, sendo as mulheres as mais descrentes. No entanto, 50% assume que a pressão social e o encorajamento das pessoas à sua volta para assumirem uma maior responsabilidade para com o ambiente é uma realidade.
Para José Rousseau, estes dados sugerem que “ não obstante o ligeiro progresso verificado muito ainda há que evoluir por parte dos consumidores portugueses na adopção de mais e melhores práticas de consumo consciente em Portugal e na assunção de uma consciência mais profunda que se reflita na alteração de muitos comportamentos ainda existentes por força da rotina e dos (maus) hábitos”.
Quanto aos comportamentos de consumo sustentáveis, os valores não são fantásticos com a maioria a admitir que poucas vezes tem a preocupação em desligar computadores, tomadas, entre outros, em casa ou no escritório. Relativamente à reciclagem e poupança de recursos (ex: separei as embalagens, verifiquei embalagens, fechei a água…), os valores também não atingem sequer os 50%.
Na compra de um automóvel, apenas 15% se preocupa em verificar os critérios ambientais, sendo esta preocupação maior nos homens do que nas mulheres. Na compra de detergentes, em 2016 apenas 2,3% compra detergentes não poluentes, valor ainda mais baixo do que em 2015 (3,6%). O consumo de água engarrafada e de carne também tem vindo a aumentar. No entanto, também se regista um aumento (10,3%) do consumo de comida biológica ou produzida em Portugal com 38% dos inquiridos em 2016 a afirmar que o fazem muitas vezes/sempre. O consumo de comida importada teve um aumento de 5% face a 2015, alcançando os 20% em 2016.
Mais de 90% dos portugueses admite, em ambos os anos, não ter adquirido um crédito de consumo. 95% também admite não ter comprado um automóvel no último ano. Mas mais de 55% tem carro, particular ou da empresa. Os portugueses estão também a usar cada vez menos os transportes públicos, com apenas 28% a afirmar que o faz muitas vezes/sempre. Em 2016, também aumentou o uso diário de automóvel, com quase 60% dos inquiridos a afirmar que o faz muitas vezes/sempre. No entanto, andar a pé ou de bicicleta em trajetos curtos é uma tendência cada vez maior com 67% de respostas positivas.
Em 2015 e 2016, mais de 90% dos portugueses afirmaram que não apoiaram uma ONG ou assinaram uma petição por uma causa ambiental ou social. Em sua casa, 87% dos portugueses afirma ter aquecimento central ou ar condicionado e apenas 2,5% tem painéis solares. Quase 30% afirma ter 2 frigoríficos ou arcas congeladoras em sua casa. 96% tem máquina de lavar a roupa e 42,8% tem máquina de lavar a loiça.
Ainda segundo Rousseau, o Observatório vem confirmar “ a necessidade de aprofundar a evolução e monitorização dos comportamentos de consumo consciente em Portugal, pelo que já está a ser preparada a 3ª edição deste estudo cujo trabalho de campo irá decorrer em Julho e Agosto e os resultados apresentados no último trimestre de 2017”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário