Em 1998, Francisca Paulina da Silva viu a própria vida dar uma guinada. Devido à crise no país, ela foi forçada a buscar uma nova fonte de renda. Naquele ano, mais de 6,6 milhões de pessoas perderam o emprego, e Francisca, que trabalhava como doméstica, foi uma delas. Aos 50 anos, e para não deixar os filhos passarem necessidade, começou a juntar retalhos e a produzir colchas para vender. Sem saber, desenvolvia ali os conceitos da economia solidária.

“Era uma época muito difícil no Brasil. Não havia outra saída: ou eu reaproveitava os retalhos ou via os filhos passarem fome”, conta. A empreitada deu certo e permitiu a Francisca manter a dignidade e gerar renda até hoje, quando o país atravessa outra situação econômica delicada.

Ao lado de 12 companheiras de trabalho, em um galpão no Barreiro de Cima, em Belo Horizonte, ela confecciona toalhas de mesa, jogos americanos, almofadas, saias, vestidos, blusas e, claro, colchas, com preços entre R$ 100 e R$ 2 mil.

Hoje, passadas quase duas décadas desde as primeiras peças, Francisca, que já exportou para a Itália, vende os artigos para todo o Brasil e vive outra revolução.

Com o apoio da Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese), em parceria com o Fórum Mineiro da Economia Popular Solidária, o Conselho Estadual de Economia Popular Solidária e prefeituras, a Economia Solidária em Minas tem alcançado novos patamares.

“A gente tem uma parceria muito boa. Esse governo está mais aberto à economia solidária. Vendemos os produtos nas feiras e uma vez por mês, na Cidade Administrativa. Também viajo o Brasil todo”, explica.

Em 2016, já foram organizadas Feiras Regionais da Economia Popular Solidária (EPS) na Região Metropolitana de Belo Horizonte e em 11 cidades de diferentes regiões. Em novembro, estão planejados eventos em João Monlevade e na praça da Assembleia Legislativa, na capital.

Segundo a superintendente de Política de Trabalho e Emprego da Sedese, Léa Braga, 849 empreendimentos – grupos de pessoas que produzem e comercializam algo – participaram das edições até agora, com impacto em 126 municípios. O Estado destinou cerca de R$ 300 mil à organização, estruturação e montagem das feiras.

Investimento que trouxe alívio para Neusa Maria Ferreira, de 64 anos, que produz bolsas há 15. “Tivemos um momento muito difícil quando não conseguíamos realizar nossa feira, mas agora melhorou”, diz a artesã, que criou um conceito próprio de economia solidária: “vender o seu produto com amor e preço justo, fugindo do capitalismo e fazendo um bom atendimento”.

Parceria com o poder público viabiliza feiras e negócios
Em Minas, mais de 330 grupos de pessoas já estão organizados fabricando os mais variados artigos, como bijuterias, peças para decoração e enxoval, roupas, colchas de retalho, enfeites para casa, calçados, bolsas, bolos, biscoitos e produtos de comunidades tradicionais.

O diretor de Geração de Renda da Sedese, José Ribeiro Gomes, afirma que o cenário da economia solidária mudou significativamente no Estado nos últimos dois anos.
 


“Cresceu muito a participação das pessoas em decorrência do desemprego. A saída estratégica está sendo a própria economia solidária. A estimativa é a de que a renda (individual) varie de R$ 1 mil a R$ 1,2 mil, mas há quem ganhe mais”, diz.

Além da implementa-ção de feiras, a Sedese também distribuiu kits de barracas em sete cidades (Paracatu, Uberlândia, Passos, Juiz de Fora, Belo Horizonte, Teófilo Otoni e São João del-Rei). Mesma medida está prevista para Montes Claros, Governador Valadares, João Monlevade e Almenara.

Segundo José Ribeiro Gomes, a legislação da economia solidária em Minas é de 2004, mas apenas ações pontuais haviam sido realizadas.

“Antes, não havia orçamento. Atualmente, a economia solidária passou a ter orçamento do Estado, fora as emendas parlamentares. Aí foi possível a gente trabalhar e ampliar”, afirma.