Sábado,
5 de julho, foi o Dia Internacional do Cooperativismo e na região o
modelo de negócio faz história. Existem diversos e bons exemplos de
cooperativismo, sistema que possui como principais alicerces a
participação democrática, a solidariedade, a independência e a
autonomia. No ABC o modelo teve grande impulso nos anos 1990, com o
desemprego. Hoje o cooperativismo está consolidado e é sucesso em
diversos setores da economia, da área de transporte, coleta de material
reciclável, supermercadista ao crédito.
Uma das pioneiras e grande representante do cooperativismo no ABC é
a Coop (Cooperativa de Consumo), que completa 60 anos de fundação e 13ª
posição do ranking da ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados. Os
números indicam a potência: 5,9 mil colaboradores e cerca de 1,6 milhão
de cooperados, atendidos em 28 unidades, 21 delas no ABC. A rede reúne,
ainda, três postos de combustíveis (um na região) e três drogarias
externas, além das farmácias dentro dos mercados. Em 2013, fechou com
fornecimento bruto de R$ 1,967 bilhão e para este ano, os investimentos
devem ser da ordem de R$ 123,5 milhões.
A expectativa de Marcio Vale, presidente da Coop, é de crescimento
de 3% este ano. "Olhando a Coop no varejo, teremos um ano com menor
crescimento", afirma. Para o empresário, no final de 2013 já havia perda
de vigor nas compras e isso não melhorou. "Maio foi o pior mês de
contratação desde 1992 e isso, com certeza, reflete no nosso mercado",
explica.
Melhor ir de táxi
Outro exemplo de cooperativismo é a ABC Rádio Táxi, que roda em
todo o ABC e possui 22 anos de existência e 250 cooperados. "Fazemos o
feijão com arroz, não gostamos de aparecer. Fazemos nosso trabalho de
divulgação em condomínios, clínicas etc", afirma Geraldo Almeida,
diretor financeiro cooperativa, que recebe mais de 128 mil chamados/mês,
faz cerca de 64 mil atendimentos e cresce entre 10% e 15% ao ano na
procura. A razão é simples. "Uma passagem de ônibus custa R$ 3, então se
duas ou três pessoas pegam táxi, o preço acaba sendo quase que o mesmo.
No ônibus falta conforto, tem a espera no ponto, enquanto o táxi busca
na porta de casa e tem ar condicionado", explica o dirigente.
Reciclagem
Outra cooperativa da região é a Coopcent (Central de Catadores de
Material Reciclável do ABC). A entidade surgiu em 2008 e hoje tem cerca
de 170 cooperados. "O número se mantém, porque depende das pessoas se
acostumarem e aprenderem como funciona uma cooperativa", conta Joana
Pereira Costa, presidente. Na Coopcenat, os catadores trabalham todos os
dias na coleta dos materiais recicláveis dos municípios. Em Ribeirão
Pires, Diadema e Mauá o trabalho é feito de porta em porta nos bairros,
em dia específico. Nas demais cidades, empresas fazem essa parte.
Após a coleta, todo o lixo vai para os galpões de triagem, onde um
grupo faz a separação do material, que depois segue para a prensa, a
fim de ser embalado e preparado para venda. Em todo o ABC, são
comercializadas mais de 300 toneladas por mês pela Coopcent, que negocia
preços para as filiais. "O trabalho em grupo melhora a negociação, se
cada município negociasse por si, com certeza perderiam benefícios",
afirma.
Joana é defensora do modelo. "O cooperativismo é mais
participativo, as pessoas tomam decisões e fazem regras juntas. Existe
um corpo diretivo, que funciona mais para a parte legal e burocrática,
mas as decisões são tomadas em conjunto", justifica a presidente da
Coopcent, que está presente em quase todo o ABC. Exceções são em São
Caetano, que está em processo de formalização com a entidade e Santo
André, onde já funcionam duas cooperativas.
Modalidade negocia crédito para pequenos
A Crediacisa (Cooperativa de Crédito da Acisa - Associação
Comercial e Industrial de Santo André) é outro exemplo. Com 700
associados e oito de mercado, a entidade registrou crescimento de 20% em
maio na comparação com o mês de 2013, puxado principalmente por
comerciantes. Wilson Ambrosio da Silva, diretor presidente, afirma que
os resultados deste ano têm sido muito positivos. "Se o segundo semestre
continuar no mesmo ritmo, a expectativa é de crescimento de 200%",
conta o dirigente da Crediacisa, que até maio a rentabilidade do ano já
ultrapassou 2013.
O objetivo da Crediacisa é ajudar pequenos e médios empresários
com dificuldade de conseguir créditos na praça. "O mercado financeiro
está nas mãos das grandes corporações e os pequenos não têm muita opção,
senão ser engolidos pelas megaempresas", explica Ambrósio, que atribui o
sucesso do cooperativismo na região à Coop. "Essa rede difundiu o
modelo, que criou raízes na população, por isso temos resultados
positivos no ABC", afirma.
Modelo foi saída para desempregados
O engenheiro e professor do programa de pós-graduação em
administração da USCS (Universidade de São Caetano do Sul), Luis Paulo
Bresciani, comenta que o grande crescimento do âmbito cooperativo
ocorreu nos anos 1990, como combate ao desemprego, quando 25% dos
empregados industriais perderem seus trabalhos. Já nos anos 2000, o
crescimento diminuiu e as cooperativas começaram a se consolidar e a se
fortalecer como modelo de negócio, fundamentado na reunião de pessoas e
não no capital, para atender as necessidades do grupo e não do lucro, e
que busca prosperidade conjunta e não individual.
Bresciani afirma que a tradição sindical do ABC é determinante
para a forte presença do cooperativismo na região. Acrescenta que o
modelo ajuda no desemprego e tem caráter mais importante em cidades
menores, onde não existem tantas grandes empresas.
Sobre o crescimento do setor, o professor acredita que pelo
contexto de baixo de desemprego, a demanda pelas cooperativas não é tão
grande quanto 20 anos atrás. "O momento é de preservação e
fortalecimento das cooperativas existentes", diz.
Comemorado sempre no primeiro sábado de julho, o cooperativismo
nasceu na Inglaterra por volta de 1840. Hoje reúne mais de 1 bilhão de
cooperados, em todos os continentes, com geração de 100 milhões de
emprego. No Brasil são mais de 6 mil cooperativas e 9 milhões de
associados, em 13 ramos do cooperativismo - consumo, crédito,
agropecuário, educacional, especial, habitacional, infraestrutura,
mineral, produção, saúde, trabalho, transporte e turismo e lazer.