domingo, 13 de julho de 2014

Cooperativismo tem cases na região do ABC


 
 
Sábado, 5 de julho, foi o Dia Internacional do Cooperativismo e na região o modelo de negócio faz história. Existem diversos e bons exemplos de cooperativismo, sistema que possui como principais alicerces a participação democrática, a solidariedade, a independência e a autonomia. No ABC o modelo teve grande impulso nos anos 1990, com o desemprego. Hoje o cooperativismo está consolidado e é sucesso em diversos setores da economia, da área de transporte, coleta de material reciclável, supermercadista ao crédito.

Uma das pioneiras e grande representante do cooperativismo no ABC é a Coop (Cooperativa de Consumo), que completa 60 anos de fundação e 13ª posição do ranking da ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados. Os números indicam a potência: 5,9 mil colaboradores e cerca de 1,6 milhão de cooperados, atendidos em 28 unidades, 21 delas no ABC. A rede reúne, ainda, três postos de combustíveis (um na região) e três drogarias externas, além das farmácias dentro dos mercados. Em 2013, fechou com fornecimento bruto de R$ 1,967 bilhão e para este ano, os investimentos devem ser da ordem de R$ 123,5 milhões.

A expectativa de Marcio Vale, presidente da Coop, é de crescimento de 3% este ano. "Olhando a Coop no varejo, teremos um ano com menor crescimento", afirma. Para o empresário, no final de 2013 já havia perda de vigor nas compras e isso não melhorou. "Maio foi o pior mês de contratação desde 1992 e isso, com certeza, reflete no nosso mercado", explica.

Melhor ir de táxi

Outro exemplo de cooperativismo é a ABC Rádio Táxi, que roda em todo o ABC e possui 22 anos de existência e 250 cooperados. "Fazemos o feijão com arroz, não gostamos de aparecer. Fazemos nosso trabalho de divulgação em condomínios, clínicas etc", afirma Geraldo Almeida, diretor financeiro cooperativa, que recebe mais de 128 mil chamados/mês, faz cerca de 64 mil atendimentos e cresce entre 10% e 15% ao ano na procura. A razão é simples. "Uma passagem de ônibus custa R$ 3, então se duas ou três pessoas pegam táxi, o preço acaba sendo quase que o mesmo. No ônibus falta conforto, tem a espera no ponto, enquanto o táxi busca na porta de casa e tem ar condicionado", explica o dirigente.

Reciclagem

Outra cooperativa da região é a Coopcent (Central de Catadores de Material Reciclável do ABC). A entidade surgiu em 2008 e hoje tem cerca de 170 cooperados. "O número se mantém, porque depende das pessoas se acostumarem e aprenderem como funciona uma cooperativa", conta Joana Pereira Costa, presidente. Na Coopcenat, os catadores trabalham todos os dias na coleta dos materiais recicláveis dos municípios. Em Ribeirão Pires, Diadema e Mauá o trabalho é feito de porta em porta nos bairros, em dia específico. Nas demais cidades, empresas fazem essa parte.

Após a coleta, todo o lixo vai para os galpões de triagem, onde um grupo faz a separação do material, que depois segue para a prensa, a fim de ser embalado e preparado para venda. Em todo o ABC, são comercializadas mais de 300 toneladas por mês pela Coopcent, que negocia preços para as filiais. "O trabalho em grupo melhora a negociação, se cada município negociasse por si, com certeza perderiam benefícios", afirma.

Joana é defensora do modelo. "O cooperativismo é mais participativo, as pessoas tomam decisões e fazem regras juntas. Existe um corpo diretivo, que funciona mais para a parte legal e burocrática, mas as decisões são tomadas em conjunto", justifica a presidente da Coopcent, que está presente em quase todo o ABC. Exceções são em São Caetano, que está em processo de formalização com a entidade e Santo André, onde já funcionam duas cooperativas.

Modalidade negocia crédito para pequenos

A Crediacisa (Cooperativa de Crédito da Acisa - Associação Comercial e Industrial de Santo André) é outro exemplo. Com 700 associados e oito de mercado, a entidade registrou crescimento de 20% em maio na comparação com o mês de 2013, puxado principalmente por comerciantes. Wilson Ambrosio da Silva, diretor presidente, afirma que os resultados deste ano têm sido muito positivos. "Se o segundo semestre continuar no mesmo ritmo, a expectativa é de crescimento de 200%", conta o dirigente da Crediacisa, que até maio a rentabilidade do ano já ultrapassou 2013.

O objetivo da Crediacisa é ajudar pequenos e médios empresários com dificuldade de conseguir créditos na praça. "O mercado financeiro está nas mãos das grandes corporações e os pequenos não têm muita opção, senão ser engolidos pelas megaempresas", explica Ambrósio, que atribui o sucesso do cooperativismo na região à Coop. "Essa rede difundiu o modelo, que criou raízes na população, por isso temos resultados positivos no ABC", afirma.

Modelo foi saída para desempregados

O engenheiro e professor do programa de pós-graduação em administração da USCS (Universidade de São Caetano do Sul), Luis Paulo Bresciani, comenta que o grande crescimento do âmbito cooperativo ocorreu nos anos 1990, como combate ao desemprego, quando 25% dos empregados industriais perderem seus trabalhos. Já nos anos 2000, o crescimento diminuiu e as cooperativas começaram a se consolidar e a se fortalecer como modelo de negócio, fundamentado na reunião de pessoas e não no capital, para atender as necessidades do grupo e não do lucro, e que busca prosperidade conjunta e não individual. 

Bresciani afirma que a tradição sindical do ABC é determinante para a forte presença do cooperativismo na região. Acrescenta que o modelo ajuda no desemprego e tem caráter mais importante em cidades menores, onde não existem tantas grandes empresas.

Sobre o crescimento do setor, o professor acredita que pelo contexto de baixo de desemprego, a demanda pelas cooperativas não é tão grande quanto 20 anos atrás. "O momento é de preservação e fortalecimento das cooperativas existentes", diz.

Comemorado sempre no primeiro sábado de julho, o cooperativismo nasceu na Inglaterra por volta de 1840. Hoje reúne mais de 1 bilhão de cooperados, em todos os continentes, com geração de 100 milhões de emprego.  No Brasil são mais de 6 mil cooperativas e 9 milhões de associados, em 13 ramos do cooperativismo - consumo, crédito, agropecuário, educacional, especial, habitacional, infraestrutura, mineral, produção, saúde, trabalho, transporte e turismo e lazer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário