Entre os dias 25 e 31 de agosto desse 2013, o Brasil sediará pela
primeira vez um Encontro Internacional da Marcha Mundial das Mulheres
(MMM). O Encontro vai reunir ativistas feministas dos cinco continentes e
de 18 estados brasileiros. São esperadas 1.600 mulheres para participar
durante todos os dias do Encontro, que acontece no Memorial da América
Latina, em São Paulo. A programação conta com uma série de debates,
oficinas e palestras que têm como objetivo discutir quais os desafios e
as propostas das mulheres frente às atuais ofensivas conservadoras. No
final do encontro, no dia 31 de agosto, a MMM realizará uma grande
mobilização de rua, convocando todas as mulheres.
Além
das delegadas da Marcha de cerca de 50 países, o Encontro terá a
presença de um grande número de militantes da MMM do Brasil e da América
Latina, “em um espaço de intercâmbio de práticas políticas e
experiências de construção de alternativas, de formação e aprofundamento
das nossas reflexões sobre temas constitutivos da nossa agenda
política”, diz o chamado. Encontros regionais, em vários estados do
Brasil, estão organizando as militantes da Marcha para a participação no
encontro internacional. Em São Paulo, a preparação aconteceu no
Sindicato dos Jornalistas, no sábado, 27 de julho. A formação para as
mulheres começa com um caderno de textos, oferecido a todas as
interessadas, iniciando os debates e a participação.
“Feminismo em marcha para mudar o mundo”
O mote do Encontro “Feminismo em marcha para mudar o mundo” reflete a
maneira da Marcha Mundial de Mulheres construir sua atuação, que a
diferencia de outros feminismos. “A origem da MMM está vinculada à
necessidade de construir um amplo processo de luta, a partir dos setores
populares, em resposta à ofensiva capitalista a partir da globalização
neoliberal e do reforço do machismo”.
A necessidade da transformação estrutural da sociedade é vista como
fundamental para superar o machismo, o racismo e a lesbofobia e, para
isso, as lutas devem ser juntas. Lourdes Simões, coordenadora da MMM na
região de Campinas, explicou como “o capitalismo aprofunda a divisão
entre o público e o privado, tornando invisível o trabalho das mulheres”
e falou da necessidade de “repensar o feminismo na atual conjuntura”. A
hierarquização da sexualidade, com as relações impostas pelo
capitalismo, o colonialismo como base do racismo, a mercantilização da
vida e do corpo das mulheres, também foram temas abordados por Lourdes,
como é chamada, princípios teóricos importantes para as militantes. “É a
reafirmação do projeto feminista e socialista, da Marcha e seu
feminismo militante e anticapitalista”.
“O sistema se reorganiza e se reestrutura para manter o acúmulo de
riquezas nas mãos de poucos”, disse Célia Aldridge, do comitê
internacional. “para manter a exploração das mulheres, o controle
privado da natureza, a apropriação da nossa força de trabalho e dos
nossos corpos”. Relembrando a história da MMM, desde 1998 em Quebec, no
Canadá, Célia falou dos encontros que juntam delegadas de todos os
continentes como fundamentais para construir o movimento mundial. “O
texto elaborado pelo comitê internacional tenta captar e dar conta de
conceitos do mundo todo e que são bastante diversos”.
Ações Internacionais
Um “movimento incontornável”, como diz a coordenadora do Secretariado
Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, Miriam Nobre. E um
movimento internacional, isso é muito importante. A coordenadora da
Marcaha em São Paulo, Sonia Coelho, recuperou a história das ações
internacionais que a Marcha realiza de 5 em 5 anos, desde 2000. A
maioria das presentes participou da última ação em 2010 que, no Brasil,
levou cerca de 2 mil mulheres a caminharem por dez dias, de Campinas a
São Paulo, com muito debate, conversa e atividades artísticas nas
paradas. Essa última ação internacional terminou na África, no Congo,
assim como a de 2005, que foi concluída em Burkina Faso. A definição da
próxima ação internacional, em 2015, começará a ser debatida neste
encontro. Também será iniciada a transição do secretariado internacional
da Marcha, que está no Brasil desde 2006.
O mundo não é uma mercadoria, a mulher também não
Frente à globalização neoliberal, uma visão feminista da crise do
capitalismo, que envolve as dimensões econômica, política, cultural,
social e inclui a dimensão privada. “O controle do mercado sobre nossa
vida se expressa sob vários ângulos”, falou Tica Moreno, da Marcha de
SP, “no trabalho, na comunicação, na alimentação cada vez mais mediada
pelo supermercado, no controle do corpo quando vemos naturalizado o uso
de medicamentos comportamentais. Desde que acordamos até a hora de
dormir vemos o poder do mercado em nossas vidas”. Tica apresentou os
temas do segundo texto do caderno, conteúdo também debatido quando da
participação da Marcha na Cúpula dos Povos na Rio + 20, em 2012. O
enfrentamento da mercantilização dos povos, da natureza e das mulheres é
o eixo em questão. Tica lembrou das mobilizações das mulheres na luta
contra a Alca, “quando os EUA queriam legitimar a América Latina como
seu quinta”. A jovem militante falou ainda de como o capitalismo
responde na crise da economia nos países centrais. “O capital reorganiza
as empresas para manterem seus lucros por meio da expansão ainda maior
sobre os territórios; a financeirização do capital vem extrapolar tudo o
que havíamos pensado!” Tica falou de como o capitalismo e o patriarcado
movem-se juntos. “A lógica de exploração da natureza é a mesma lógica
do controle do nosso tempo e dos nossos corpos, as dimensões dos
cuidados da vida e da natureza são fundamentais para a construção de uma
nova sociedade”.
Várias atividades na programação
Na programação, estão previstas atividades de intercâmbio e formação
política e cultural, como os debates “Histórico do movimento feminista
na América Latina”, com a participação de Sandra Morán (Guatemala), Nalu
Faria (Brasil), Sonia Alvarez (EUA); “Acumulação por despossessão -
ofensiva do capital sobre trabalho, corpo e territórios”, com Helena
Hirata (França), Ariel Salleh (Austrália), Malalai Joya (Afeganistão); e
“A construção de alternativas feministas”, com Basma Khalfaoui
(Tunisia) e Gina Gonzalez (Cuba). Além dos debates teóricos, serão
utilizadas outras linguagens, como a realização de uma exposição sobre o
histórico da Marcha e do feminismo pelo mundo.
Serão realizadas ainda uma Mostra de Economia Solidária e Feminista,
que pretende não apenas dar visibilidade às mulheres como atrizes da
economia, mas também contribuir com a criação de alternativas concretas
frente ao atual modelo econômico. A programação conta ainda com shows,
oficinas e atividades culturais, como uma exposição fotográfica que
pretende resgatar a história da Marcha Mundial das Mulheres. A exposição
será realizada na Galeria Olido, no Centro, com entrada aberta ao
público. No dia 31, está prevista uma Assembleia para compartilhar
análises e decisões. O evento se encerra com uma grande mobilização, que
espera reunir 10 mil mulheres nas ruas de São Paulo.
As interessadas em participar do Encontro devem procurar os comitês
organizados da Marcha Mundial das Mulheres em cada estado ou entrar em
contato através do e-mail sof@sof.org.br ; em São Paulo, o telefone é o (11) 3819-3876. O site da marcha é o
http://www.sof.org.br .