A
gestão dos resíduos de embalagens no âmbito do Sistema Integrado de
Gestão de Resíduos de Embalagens (SIGRE) enquadra-se por excelência no
conceito de Economia Verde, já que potencia um efeito multiplicador na
economia, cria mais de 2400 postos de trabalho e evitou a emissão de
dióxido de carbono (CO2) equivalente às emissões geradas pelo consumo
anual de electricidade de 124 mil agregados familiares em Portugal.
Estas são algumas das conclusões do projecto de investigação
“Contributos do SIGRE para o Desenvolvimento Socioeconómico e Ambiental
de Portugal”, desenvolvido pela consultora ambiental 3Drivers, com o
objectivo principal de avaliar os impactes directos e indirectos da
gestão de resíduos de embalagens efectuada no âmbito do SIGRE, também
conhecido como Sistema Ponto Verde, aos níveis ambiental, económico e
social em Portugal.
O estudo conclui que a gestão de resíduos de embalagens no âmbito
deste sistema potencia uma gestão mais eficiente dos recursos naturais,
contribuindo para a redução dos impactes ambientais da extracção de
novos recursos e para a disponibilidade de recursos essenciais às nossas
economias, criando ao mesmo tempo oportunidades de negócio, valor
acrescentado e emprego.
O SIGRE é gerido pela Sociedade Ponto Verde e existe para garantir a
organização e gestão de um circuito que assegura a retoma, valorização e
reciclagem dos resíduos de embalagens não-reutilizáveis, assim como a
diminuição do volume de resíduos depositados em aterro. O sucesso deste
sistema assenta na articulação de responsabilidades entre os vários
parceiros, no sentido de completar um ciclo com um potencial de
sustentabilidade praticamente infinito: sistemas municipais e
autarquias, embaladores/importadores, distribuidores, fabricantes de
embalagens e de materiais de embalagens, recicladores e consumidores.
O estudo sobre os “Contributos do SIGRE para o Desenvolvimento
Socioeconómico e Ambiental de Portugal” foi realizado pela consultora
ambiental 3Drivers ao longo de 2012. A coordenação científica do estudo
esteve a cargo do Prof. Paulo Ferrão.
O impacto do SIGRE na Economia
As actividades de gestão de resíduos de embalagens no âmbito do SIGRE
apresentam um impacte económico significativo, de acordo com o estudo.
Por exemplo, a nível do valor acrescentado, o Sistema Ponto Verde
encontra-se entre os ramos de actividade com maior efeito multiplicador a
nível nacional, sendo que, por cada euro de valor acrescentado no SIGRE
são gerados 1,25 euros de valor acrescentado no resto da economia.
Por outro lado, por cada euro de salários são adicionalmente pagos
1,30 euros de salários no resto da economia e, por cada euro de volume
de negócios, circulam adicionalmente na economia 1,04 euros de volume de
negócios.
A alavancagem total do SIGRE, entendida como o valor monetário dos
efeitos indirectos dos vários ramos de actividade que integram o Sistema
nos restantes sectores da economia, é de 147 milhões de euros de Valor
Acrescentado Bruto, 80 milhões de euros de salários e 391 milhões de
euros de volume de negócios.
Tendo em conta o actual panorama relacionado com a gestão de resíduos
de embalagens no SIGRE, procurou-se também avaliar as consequências
económicas de um cenário alternativo em que não ocorreria separação e
reciclagem de resíduos de embalagens e que estes seriam geridos
indiferenciadamente. Concluiu-se que tal cenário alternativo implicaria
uma redução de PIB de 71 milhões de euros.
Em relação ao enquadramento económico dos embaladores aderentes ao
sistema gerido pela SPV, verifica-se que a maior parte dos embaladores
se enquadra em sectores ligados às indústrias transformadoras (46%),
seguidos das empresas ligadas ao comércio por grosso e a retalho,
reparação de veículos automóveis e motociclos (36%) e agricultura,
produção animal, caça, floresta e pesca (9%). No total, as cerca de 12
mil empresas aderentes representam apenas 0,9% do número de empresas
existentes em Portugal, mas geram, no mínimo, 31,4% do volume de vendas
das empresas não financeiras no nosso país.
O impacto do SIGRE no Ambiente
Da avaliação realizada, constatou-se que o SIGRE apresenta
globalmente um balanço ambiental positivo, ou seja, os impactes gerados
pelas diversas actividades de recolha, triagem, transporte, tratamento e
valorização de resíduos são suplantados pelos impactes evitados devido à
recuperação de materiais e energia obtidos pelos processos de
valorização dos resíduos, com especial enfoque na sua reciclagem.
Estima-se que, em 2011, a gestão dos resíduos de embalagens no âmbito
do Sistema Ponto Verde permitiu evitar a emissão de 116 mil toneladas
de CO2 equivalente. Este valor é correspondente às emissões geradas pelo
consumo de electricidade de mais 124 mil agregados familiares em
Portugal num ano ou a 15 750 voltas ao mundo de avião. Por outro lado,
permitiu uma redução no consumo de água equivalente a 275 piscinas
olímpicas.
Comparando-se o desempenho do SIGRE com o desempenho potencial de
dois cenários alternativos - nomeadamente a incineração e o aterro -,
verifica-se que a configuração actual do Sistema Ponto Verde é a única
que apresenta um resultado ambiental positivo em todas as categorias
consideradas. Por exemplo, a nível da emissão de gases com efeito de
estufa, e face a um modelo onde os resíduos de embalagens teriam sido
recolhidos indiferenciadamente com os outros resíduos e encaminhados
para incineração, o actual modelo de gestão de resíduos de embalagens
permitiria evitar, com base nos dados de 2011, a emissão de 396.240
toneladas de CO2 equivalente, ou seja, o correspondente ao sequestro de
carbono de 678 km2 de pinheiros.