quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Investigação alerta para riscos na reciclagem de produtos eletrónicos em alguns países



  Computadores, tablets, telemóveis, televisores e outros equipamentos elétricos e eletrónicos são muitas vezes enviados para países em vias de desenvolvimento para reciclagem, mas os riscos de exposição ambiental e de saúde pública são elevados. O problema já tinha sido identificado por organizações de defesa do ambiente e é agora reforçado por uma investigação do Centro para a sustentabilidade das comunicações do KTH The Royal Institute of Technology.

Uma investigadora deste instituto deslocou-se ao Paquistão onde observou as condições de vida das populações que se ocupam deste tipo de reciclagem de lixo eletrónico, avaliando os impactos sociais da reciclagem informal, onde não estão presentes regras de proteção ambiental nem pessoal, não existem procedimentos definidos e onde até mesmo as crianças participam na desmontagem de motherboards e outros componentes.

“Existem problemas de saúde e sociais massivos ligados ao lixo eletrónico no Paquistão. Ao mesmo tempo esta é a única forma de sobrevivência e sustento de milhares de pessoas”, alerta Shakila Umair.

O relatório disponibilizado com base nesta análise mostra que os trabalhadores desmontam equipamentos manualmente, queimam fios para extrair cobre e mergulham as placas impressas em ácido para extrair metais preciosos, como ouro e prata. No processo inalam fumos tóxicos quase permanentemente e expõem-se a materiais cancerígenos, como tinta, sem qualquer conhecimento da forma como isso pode afetar a sua saúde.



Medidas de proteção básica, como luvas e máscaras, poderiam facilmente fazer grande diferença no impacto na saúde destas pessoas, mas muitos não podem comprá-los para se protegerem. Segundo a investigadora, mulheres, crianças e homens trabalham diariamente no lixo eletrónico durante 12 horas por dia, seis dias por semana, sem acesso a benefícios ou segurança social, e o seu rendimento diário não ultrapassa os 2,7 dólares por dia.



Existem regulamentos internacionais que impedem a transferência de lixo eletrónico de países desenvolvidos para países em vias de desenvolvimento, mas as falhas na legislação e no controle têm levado ao crescimento deste negócio ilegal. O relatório indica que cerca de 80% de todo o lixo eletrónico é enviado para países em desenvolvimento onde é desmontado manualmente ao menor custo, gerando poupanças elevadas face ao processamento em países desenvolvidos.

Alguns países reforçaram recentemente as regras nesta área, nomeadamente a Índia e a China, mas a investigadora avisa que isso só vai fazer com que aumente a quantidade de lixo eletrónico enviado para países como o Paquistão, Sri Lanka e Bangladesh, que têm menor controle.

Shakila Umair garante que o objetivo deste relatório não é impedir que países como o Paquistão bloqueiem totalmente a reciclagem, porque este é um negócio que garante o sustento de milhares de pessoas, mas defende que este deve ser formalizado, pelo menos parcialmente e está a trabalhar com as autoridades locais e fabricantes de tecnologias com presença global para que estes assumam responsabilidades sobre a saúde e a situação social destes trabalhadores

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