sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Marcha Mundial das Mulheres faz encontro no Brasil

 


Entre os dias 25 e 31 de agosto desse 2013, o Brasil sediará pela primeira vez um Encontro Internacional da Marcha Mundial das Mulheres (MMM). O Encontro vai reunir ativistas feministas dos cinco continentes e de 18 estados brasileiros. São esperadas 1.600 mulheres para participar durante todos os dias do Encontro, que acontece no Memorial da América Latina, em São Paulo. A programação conta com uma série de debates, oficinas e palestras que têm como objetivo discutir quais os desafios e as propostas das mulheres frente às atuais ofensivas conservadoras. No final do encontro, no dia 31 de agosto, a MMM realizará uma grande mobilização de rua, convocando todas as mulheres.
Além das delegadas da Marcha de cerca de 50 países, o Encontro terá a presença de um grande número de militantes da MMM do Brasil e da América Latina, “em um espaço de intercâmbio de práticas políticas e experiências de construção de alternativas, de formação e aprofundamento das nossas reflexões sobre temas constitutivos da nossa agenda política”, diz o chamado. Encontros regionais, em vários estados do Brasil, estão organizando as militantes da Marcha para a participação no encontro internacional. Em São Paulo, a preparação aconteceu no Sindicato dos Jornalistas, no sábado, 27 de julho. A formação para as mulheres começa com um caderno de textos, oferecido a todas as interessadas, iniciando os debates e a participação.
“Feminismo em marcha para mudar o mundo”
O mote do Encontro “Feminismo em marcha para mudar o mundo” reflete a maneira da Marcha Mundial de Mulheres construir sua atuação, que a diferencia de outros feminismos. “A origem da MMM está vinculada à necessidade de construir um amplo processo de luta, a partir dos setores populares, em resposta à ofensiva capitalista a partir da globalização neoliberal e do reforço do machismo”.
A necessidade da transformação estrutural da sociedade é vista como fundamental para superar o machismo, o racismo e a lesbofobia e, para isso, as lutas devem ser juntas. Lourdes Simões, coordenadora da MMM na região de Campinas, explicou como “o capitalismo aprofunda a divisão entre o público e o privado, tornando invisível o trabalho das mulheres” e falou da necessidade de “repensar o feminismo na atual conjuntura”. A hierarquização da sexualidade, com as relações impostas pelo capitalismo, o colonialismo como base do racismo, a mercantilização da vida e do corpo das mulheres, também foram temas abordados por Lourdes, como é chamada, princípios teóricos importantes para as militantes. “É a reafirmação do projeto feminista e socialista, da Marcha e seu feminismo militante e anticapitalista”.
“O sistema se reorganiza e se reestrutura para manter o acúmulo de riquezas nas mãos de poucos”, disse Célia Aldridge, do comitê internacional. “para manter a exploração das mulheres, o controle privado da natureza, a apropriação da nossa força de trabalho e dos nossos corpos”. Relembrando a história da MMM, desde 1998 em Quebec, no Canadá, Célia falou dos encontros que juntam delegadas de todos os continentes como fundamentais para construir o movimento mundial. “O texto elaborado pelo comitê internacional tenta captar e dar conta de conceitos do mundo todo e que são bastante diversos”.
Ações Internacionais
Um “movimento incontornável”, como diz a coordenadora do Secretariado Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, Miriam Nobre. E um movimento internacional, isso é muito importante. A coordenadora da Marcaha em São Paulo, Sonia Coelho, recuperou a história das ações internacionais que a Marcha realiza de 5 em 5 anos, desde 2000. A maioria das presentes participou da última ação em 2010 que, no Brasil, levou cerca de 2 mil mulheres a caminharem por dez dias, de Campinas a São Paulo, com muito debate, conversa e atividades artísticas nas paradas. Essa última ação internacional terminou na África, no Congo, assim como a de 2005, que foi concluída em Burkina Faso. A definição da próxima ação internacional, em 2015, começará a ser debatida neste encontro. Também será iniciada a transição do secretariado internacional da Marcha, que está no Brasil desde 2006.
O mundo não é uma mercadoria, a mulher também não
Frente à globalização neoliberal, uma visão feminista da crise do capitalismo, que envolve as dimensões econômica, política, cultural, social e inclui a dimensão privada. “O controle do mercado sobre nossa vida se expressa sob vários ângulos”, falou Tica Moreno, da Marcha de SP, “no trabalho, na comunicação, na alimentação cada vez mais mediada pelo supermercado, no controle do corpo quando vemos naturalizado o uso de medicamentos comportamentais. Desde que acordamos até a hora de dormir vemos o poder do mercado em nossas vidas”. Tica apresentou os temas do segundo texto do caderno, conteúdo também debatido quando da participação da Marcha na Cúpula dos Povos na Rio + 20, em 2012. O enfrentamento da mercantilização dos povos, da natureza e das mulheres é o eixo em questão. Tica lembrou das mobilizações das mulheres na luta contra a Alca, “quando os EUA queriam legitimar a América Latina como seu quinta”. A jovem militante falou ainda de como o capitalismo responde na crise da economia nos países centrais. “O capital reorganiza as empresas para manterem seus lucros por meio da expansão ainda maior sobre os territórios; a financeirização do capital vem extrapolar tudo o que havíamos pensado!” Tica falou de como o capitalismo e o patriarcado movem-se juntos. “A lógica de exploração da natureza é a mesma lógica do controle do nosso tempo e dos nossos corpos, as dimensões dos cuidados da vida e da natureza são fundamentais para a construção de uma nova sociedade”.
Várias atividades na programação
Na programação, estão previstas atividades de intercâmbio e formação política e cultural, como os debates “Histórico do movimento feminista na América Latina”, com a participação de Sandra Morán (Guatemala), Nalu Faria (Brasil), Sonia Alvarez (EUA); “Acumulação por despossessão - ofensiva do capital sobre trabalho, corpo e territórios”, com Helena Hirata (França), Ariel Salleh (Austrália), Malalai Joya (Afeganistão); e “A construção de alternativas feministas”, com Basma Khalfaoui (Tunisia) e Gina Gonzalez (Cuba). Além dos debates teóricos, serão utilizadas outras linguagens, como a realização de uma exposição sobre o histórico da Marcha e do feminismo pelo mundo.
Serão realizadas ainda uma Mostra de Economia Solidária e Feminista, que pretende não apenas dar visibilidade às mulheres como atrizes da economia, mas também contribuir com a criação de alternativas concretas frente ao atual modelo econômico. A programação conta ainda com shows, oficinas e atividades culturais, como uma exposição fotográfica que pretende resgatar a história da Marcha Mundial das Mulheres. A exposição será realizada na Galeria Olido, no Centro, com entrada aberta ao público. No dia 31, está prevista uma Assembleia para compartilhar análises e decisões. O evento se encerra com uma grande mobilização, que espera reunir 10 mil mulheres nas ruas de São Paulo.
As interessadas em participar do Encontro devem procurar os comitês organizados da Marcha Mundial das Mulheres em cada estado ou entrar em contato através do e-mail sof@sof.org.br ; em São Paulo, o telefone é o (11) 3819-3876. O site da marcha é o http://www.sof.org.br .

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