quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Programas incentivam e valorizam artesãos de bairros pessoenses


“É um trabalho que não enriquece, mas que traz muita felicidade. Junta o útil ao agradável, o ofício ao prazer.” É assim que a artesã Ozinete da Costa Silva define sua participação no Grupo Arte e Ação, do bairro do Cristo Redentor, em João Pessoa. O grupo existe há quatro anos e reúne costureiras, bordadeiras, crocheteiras e outras artes manuais desenvolvidas em oficinas semanais no Centro de Referência da Cidadania (CRC), da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP).

O Arte e Ação faz parte de um conjunto de 54 grupos de artesãs e artesãos existentes em 14 bairros da cidade, envolvendo uma média de 350 pessoas. Eles são acompanhados pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), nos moldes da Economia Solidária, por meio da Diretoria de Economia Solidária Segurança Alimentar e Nutricional (Dessan).

A PMJP realiza esse trabalho há mais de seis anos e, segundo explica a coordenadora de Economia Solidária, Cristina Daniel, é desenvolvido por meio de uma política de valorização e qualificação e do apoio a grupos informais e unidades produtivas de consumo solidário. “É uma forma de organização econômica que envolve a prática de produção e consumocom base na autogestão, na justiça social e no cuidado com o meio ambiente e as gerações futuras”, destaca.

O trabalho da Dessan consiste em acompanhar e assessorar os grupos em visitas aos locais de produção, ofertar cursos e participação em encontros e estimular a inserção nos encontros de Economia Solidária municipal e estadual. Nos espaços formativos, busca-se a sensibilização para os princípios da inclusão social, democracia, crescimento sustentável, consumo crítico, comércio justo, paz entre os seres, solidariedade, autogestão e cooperação.

Fundo Solidário – Segundo Josalba Lira, que coordena o acompanhamento aos grupos, dentro da ação está prevista a prática do Fundo Solidário, que consiste em dividir o dinheiro arrecadado igualitariamente entre todos os componentes. Mas, atualmente, nem todos os grupos envolvidos praticam a Economia Solidária seguindo todos os seus princípios. “Alguns cumprem com os princípios de organização para a produção, outros apenas para a comercialização. No momento, poucos atingem a organização nas duas fases”, diz.

A seleção de pessoas ou grupos se dá de acordo com a demanda que chega ao setor. “A partir daí, são traçados os perfis dos grupos. Permanecem no processo conforme cumpram com os critérios e as normas do trabalho”, explica Cristina.

Grupos de produção – Quem, em João Pessoa, ainda não visitou, não comprou uma lembrancinha, ou não tem em casa um artigo que tenha sido comprado na Feira Solidária? A Feirinha de Artesanato, como é conhecida pela população, é temporariamente instalada, de forma itinerante, em pontos turísticos estratégicos da cidade, desde dezembro do ano passado.

É ali que os integrantes dos grupos conseguem escoar a produção do cotidiano. O espaço é próprio para a divulgação, venda e, na maioria das vezes, o pedido de encomendas para grandes eventos. As modalidades de produção são confecções, vestuários, bijuterias e artesanatos diversos.

Nova vida – Ozinete diz que sempre trabalhou com costura, mas foi no grupo que ela descobriu o exercício da solidariedade, a integração e a convivência em sociedade. “É um momento prazeroso. Enquanto trabalhamos, rimos e choramos, dividimos nossas alegrias e dores. Todos se ajudam aqui”, destaca.

A artesã Fátima Mendonça é do Grupo Cozinha e Arte, do Bairro dos Novaes. Ela diz que encontrou no grupo uma razão para viver. “Vivia fazendo minhas pinturas em casa, sozinha, era doente, deprimida e triste. Hoje vivo pintando, bordando, trabalhando com fita e linha, aprendendo e ensinando, além de vender meus produtos o tempo todo. É gratificante estar junto, participando, ajudando. Não sabia que daria tão certo”, conta ela.

O Grupo Retalhos a Fio, do Ernesto Geisel, é um dos mais antigos. A artesã Edileuza Brandão de Mendonça diz que, antes, era a maior dificuldade vender os produtos. “Fazíamos o artesanato e ficava tudo em casa. Hoje, participamos de feiras e complementamos o salário – isso ajuda muito, principalmente nas festas de final de ano. Estamos no céu”, elogia. Todas reconhecem que a luta é pelo aprimoramento do produto, já visando a Copa do Mundo. “O produto de melhor qualidade chama a atenção do cliente. Estamos nos preparando, já discutindo a produção para a Copa no Brasil. Até lá, com certeza, estaremos bastante organizadas”, revela Edileuza.

Vendas animam – Em menos de um ano de funcionamento, a Ferinha Solidária comercializou mais de R$ 131 mil em exposições esporádicas. A última novidade é a parceria com a Fundação de Cultura de João Pessoa (Funjope), que abriu espaço para a exposição aos sábados, durante a realização do projeto Sabadinho Bom, na Praça Rio Branco.

Segundo Aline Martins Barroca, diretora da Dessan, a Sedes acompanha os Grupos de Produção com apoio a microcréditos, capacitações, Economia Solidária, organização e comercialização dos produtos. “Acreditamos no potencial destes grupos, pois todos produzem um artesanato de boa qualidade e beleza”, destaca.

Ela diz ainda que o crescimento profissional e pessoal dos artesãos apoiados pela PMJP estimulam a Dessan a lutar por mais políticas públicas que os favoreçam.

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