sábado, 4 de junho de 2016

Conter mudanças climáticas é corrida contra o tempo, diz chefe da ONU para o clima

 

 

Mesmo após o mundo ter chegado a um acordo histórico na COP-21, celebrada em dezembro, em Paris, a secretária-executiva da ONU para o clima, Christiana Figueres, teme que a humanidade não seja capaz de acabar com o consumo maciço de combustíveis fósseis a tempo de evitar uma catástrofe, disse à AFP em uma entrevista recente.
"Minha preocupação é se essa transformação vai acontecer rápido o suficiente para evitar os piores impactos", disse Figueres, referindo-se à transição global dos combustíveis fósseis poluentes para a energia verde.
"As emissões de gases do efeito de estufa têm de atingir o pico de forma rápida e começar a diminuir", afirmou Figueres na entrevista, realizada em 26 de maio em Bonn, na Alemanha, enquanto os diplomatas concluíam sua primeira sessão de negociações desde o acordo alcançado na COP-21.
"É uma corrida contra o relógio", completou Figueres, dez dias antes do Dia Mundial do Meio Ambiente, que se comemora anualmente em 5 de junho.
Figueres, da Costa Rica, assumiu o comando da ONU para as negociações sobre o clima após o fracasso da cúpula de Copenhague, em 2009, e desempenhou um papel fundamental na definição das bases para o primeiro acordo climático universal do mundo.
No Acordo de Paris, 195 nações prometeram manter o aquecimento global médio bem abaixo de 2º Celsius - ou até mesmo abaixo de 1,5º C, se possível.
O aumento de 1º C na temperatura média da Terra, registrado desde a Revolução Industrial, tem alimentado um número crescente de secas devastadoras, tempestades torrenciais e elevação do nível dos mares, ameaçando os lares e meios de subsistência de dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo.
Mas as medidas que os países firmantes do acordo devem adotar em âmbito nacional para reduzir a emissão de poluentes ainda está muito aquém do previsto, e os cientistas dizem que é necessário agir rápido para alcançar a meta definida em Paris.
As nações ricas também concordaram em investir trilhões de dólares nos países pobres nas próximas décadas para ajudá-los a lidar com os impactos climáticos e a reorganizar suas economias.
Os negociadores reunidos em Bonn durante dez dias analisaram medidas para converter o projeto político em um plano viável, e voltarão a se reunir com seus ministros em novembro, em Marrakech, Marrocos.
Figueres, que deixará o cargo em julho, foi homenageada pelos diplomatas durante uma sessão de trabalho conjunta em Bonn, quando eles cantaram uma versão modificada de um clássico dos anos 1970 do grupo sueco Abba, substituindo o termo "Dancing Queen" por "Climate Queen" (rainha do clima).
Conhecida por ser otimista - até demais, diriam alguns -, Figueres disse à AFP que seu mandato de seis anos foi também repleto de momento angustiantes e decisivos.
"Tomei a decisão de ser otimista desde o início. (...) Foi em resposta à situação que eu herdei, que era tudo, menos otimista", completou.
Após o fiasco de Copenhague, não se sabia se a ONU conseguiria botar as conversações sobre o clima de volta nos trilhos.
Figueres afirmou que todas as reuniões sobre o clima de que ela participou tiveram "momentos de crise".
Durante a cúpula de 2011 em Durban, África do Sul, onde o prazo de Paris de 2015 foi estabelecido, a imprensa informava que as negociações tinham falhado, lembrou.
"É aí que você tem que respirar fundo", completou a secretária-executiva.
O acordo de dezembro passado foi elaborado sob um novo espírito de cooperação entre as nações, tanto as ricas como as em desenvolvimento, que esteve ausente durante a maioria das negociações realizadas ao longo de 20 anos, acrescentou.
Hoje "há muito mais vontade de resolver este problema em conjunto", afirmou Figueres, ecoando a opinião de muitos dos diplomatas e observadores reunidos em Bonn.
Mas o pacto de Paris neste momento é apenas uma estrutura, que ainda precisa ser trabalhada.
"É como se mudar para uma casa muito grande e sem mobília" com 196 colegas, disse Figueres. "E todas as decisões têm de ser tomadas por consenso".
Figueres será sucedida como secretária-executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima pela ex-ministra mexicana Patricia Espinosa, atualmente embaixadora na Alemanha.

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