quarta-feira, 24 de novembro de 2010

AGRICULTURA FAMILIAR ENFRENTA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Na abertura das atividades da XIV Reunião Especializada sobre a Agricultura Familiar no Mercosul (REAF), nesta segunda-feira (15), em Brasília (DF), o Grupo Temático de Gênero abordou os arranjos produtivos e as políticas públicas voltadas às trabalhadoras rurais nos países do bloco.

A coordenadora internacional da Marcha das Mulheres, Miriam Nobre, abriu o seminário “Organização Produtiva das Mulheres Rurais”, abordando a importância de pensar a produção do ponto de vista das mulheres. “Se por um lado há a economia de mercado, há também a economia de cuidado. As relações entre economia feminista, economia camponesa e economia solidária lidam com esta produção e reprodução sustentável e com mais visibilidade às trabalhadoras rurais”.

Miriam Nobre ressaltou o papel da sociedade civil para garantir os avanços e conquistas de direitos e ressalvou os avanços obtidos nas políticas públicas no Brasil. “Parte da economia rural, sobretudo o trabalho das mulheres, tem pouca visibilidade tanto nas políticas publicas como na economia geral nos assentamentos e nas comunidades. Então, temos continuar promovendo apoio não só para dar maior visibilidade mas para garantir a parte produtiva como na parte reprodutiva, a qual a mulher tem papel central”.

A consultora da Assessoria Especial de Gênero, Raça e Etnia do Ministério do Desenvolvimento Agrário (Aegre/MDA), Patrícia Mourão, apresentou os resultados da pesquisa Mapeamento da Economia Solidária, realizada nos anos de 2005 e 2007 em parceria com o Ministério do Trabalho, através da Secretaria Nacional de Apoio à Economia Solidária, que a participação feminina em cooperativas, associações e entidades coletivas nas zonas rurais brasileiras.

Foram identificados 21.858 empreendimentos de economia solidária em 2.274 municípios, envolvendo cerca de um milhão de pessoas, das quais 37% mulheres e 48% trabalhadores e trabalhadoras rurais, que representam apenas 8% das 9.403 associações. Na pesquisa foram ainda ressaltados aspectos como a maior informalidade dos grupos de mulheres, o menor valor agregado das cooperativas e associações produtoras de mulheres, Patrícia Mourão aponta que entre os principais desafios estão: criar maior autonomia às mulheres; superar limitações e disponibilidade para cuidados com as crianças e interferência dos maridos; visibilizar a contribuição das mulheres na economia; qualificar o processo de gestão, produção e comercialização; ampliar o acesso às políticas públicas e; diversificar produção com maior valor agregado. Patrícia ressalta o avanço de políticas públicas voltadas para a organização produtiva como o Pronaf Mulher, a Assistência Técnica e Extensão rural pra mulheres trabalhadoras rurais e os editais de organização produtiva.

A XIV REAF
Criada em 2004, a REAF é um espaço de diálogo regional voltado à promoção do fortalecimento institucional e da construção conjunta de políticas públicas para a agricultura familiar e a facilitação do comércio de seus produtos na região. A Reunião também incorpora a construção de uma visão solidária e complementar de integração comercial e prioriza o trabalho conjunto entre governos e organizações sociais representativas da agricultura familiar.

A programação da XIV REAF prossegue até esta sexta-feira (19) no Centro de Convenções Brasil XXI, em Brasília (DF). Além de representantes dos governos e da sociedade civil dos Estados Membros e Associados do Mercosul, participam observadores de governos do continente africano.