quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Sorocaba: O papel das cooperativas


 
 
A Prefeitura de Sorocaba está disposta a incluir a coleta seletiva de materiais recicláveis no edital de coleta do lixo doméstico, que está em fase final de elaboração. Com isso, o recolhimento domiciliar de materiais como plástico, vidro, metal e papel seria ampliado dos 15% cobertos atualmente pelas cooperativas de reciclagem, com apoio da Prefeitura (que fornece veículos, maquinários e galpões), para 100%. 

Caso viabilizado, o projeto representará uma conquista sem precedentes, só comparável, em termos de importância e impacto ambiental, à adoção dos aterros sanitários em lugar dos lixões e à introdução do conceito de reciclagem, popularizado pioneiramente em Sorocaba pelas cooperativas de catadores, a partir do final da década de 1990. 

Existem, no entanto, definições que ainda precisarão ser delineadas com inteligência e sensibilidade, para que as vantagens obtidas com o novo sistema de coleta não causem retrocessos indesejados. E a principal delas, seguramente, é o papel que será reservado às cooperativas. 

A presidente do Centro de Estudos e Apoio ao Desenvolvimento, Emprego e Cidadania (Ceadec), entidade que gerencia a maior e mais antiga cooperativa de Sorocaba, Rita de Cássia Gonçalves Viana, está certa quando afirma que a cidade tem uma dívida social com os catadores. A bem da verdade, a importância das cooperativas transcende o aspecto social e histórico. Elas foram e continuam sendo indispensáveis a qualquer projeto nesse setor. 

As cooperativas detêm hoje a maior parte da capacidade instalada em equipamentos para separar, higienizar e preparar os materiais, a fim de que possam ser comercializados em grande escala. E detêm, além disso, uma expertise de muitos anos nesse processo, indispensável para que os materiais coletados não vão simplesmente abarrotar depósitos, mas sejam processados e comercializados num fluxo contínuo. 

A proposta inicial da Prefeitura prevê que as empresas contratadas para a coleta repassem os materiais recicláveis às cooperativas. É um começo, mas obviamente não é tudo. Com 15% de cobertura, as cooperativas já trabalham no limite. Para que a coleta seletiva ocorra regularmente em toda a cidade, é preciso que a capacidade das cooperativas de armazenar e processar os materiais passíveis de reaproveitamento seja multiplicada por sete. 

Com coleta regular na cidade toda, pode-se chegar a 4,5 mil toneladas/mês de materiais que, diferentemente do lixo descartado em aterros, precisam ser reinseridos no mercado nem que seja a custo baixíssimo ou até a custo simbólico, já que seria economicamente inviável alocar galpões para guardar esse volume de materiais por mais de alguns meses.  
Isso remete à necessidade de remunerar as cooperativas pelos serviços prestados, com valores justos e suficientes para sua manutenção, em vez de obrigá-las a sobreviver com o produto da venda dos materiais, que podem ou não -- conforme as condições de mercado -- proporcionar ganhos adequados. 

É importante lembrar que a coleta seletiva pode representar uma economia de 30% nos gastos com aterro sanitário. E que a parceria com cooperativas é condição indispensável para que a cidade receba financiamentos federais, já que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei nº 12.305/2010) dá prioridade de acesso aos recursos da União a municípios que fizerem a coleta seletiva com a participação dessas associações. 

Todos esses fatores apontam para a necessidade de dialogar com as cooperativas, antes que se dê ao edital da coleta de lixo seu formato final. Há problemas urbanos fáceis de resolver, já que seu equacionamento depende apenas de dinheiro. Não é isso, certamente, o que ocorre com a coleta seletiva, cuja universalização exigirá uma excelente estrutura e, igualmente importante, uma experiência acumulada em todas as etapas da reciclagem.

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