sexta-feira, 15 de agosto de 2014

MP destaca a idoneidade das cooperativas lácteas

 

Fraudes teriam ocorrido antes da entrega do leite às indústrias
O promotor de Justiça Alcindo Bastos, do Ministério Público gaúcho, disse, na sexta-feira, que a fraude envolvendo adição de água e álcool ao leite cru entregue para as cooperativas Piá e Santa Clara provavelmente ocorreu em etapas que antecedem os procedimentos industriais, podendo ter resultado da ação de transportadores ou produtores.
A afirmação foi concedida após o encontro com representantes das duas empresas, que reuniram-se com Bastos na Promotoria de Justiça do MP para prestar esclarecimentos iniciais sobre o fato. Tanto a Piá quanto a Santa Clara alegaram que realizar uma grande variedade de análises, chegando a mais de 100 mil testes mensais, e negaram a existência de álcool no leite.
Bastos fez questão de lembrar que as cooperativas são sérias e que estão há tantas décadas no mercado, porque conquistaram a credibilidade dos consumidores. No entanto, o promotor disse confiar nos resultados repassados pelo Ministério da Agricultura. “São empresas idôneas, se houve alguma falha, foi no controle de qualidade.”
As cooperativas se comprometeram em apresentar documentos relativos às análises e rotas. Outro material solicitado pelo promotor são análises que mostrem situações em que as empresas identificaram irregularidades no leite e descartaram o produto. O MP e as cooperativas voltam a se reunir em 20 dias para entrega do material solicitado.
Essa documentação deve subsidiar a investigação do MP, que tenta identificar as brechas que ainda permitem a ocorrência de fraudes. A situação das duas cooperativas, explica Jerônimo Friedrich, engenheiro químico do Ministério Público, mostra o nível de sofisticação das adulterações. O álcool etílico tem o objetivo de mascarar a adição de água no leite cru. Isso porque o exame de crioscopia do leite, que demonstra o ponto de congelamento, pode apontar quantidade superior de água se o congelamento ocorrer em menor prazo do que o estimado. O álcool retarda esse prazo de congelamento.
Por outro lado, a adição de água diminuiria a contagem de proteínas do leite, o que também poderia ser identificado pelas análises. O que justifica o fato de que o percentual de proteína não tenha ficado abaixo do estabelecido é o uso de leite com alto teor de proteína, ao qual a água é adicionada em limites cuidadosamente calculados para que não denunciem a redução de proteína. “Isso demonstra aprimoramento de quem tem cuidado em analisar o leite antes de adulterar”, comenta Friedrich.
Embora os postos de resfriamento da Piá e da Santa Clara onde foram encontrados traços de álcool no leite sejam próximos e as análises tenham sido feitas no mesmo dia, os produtores, transportadores e a rota não são os mesmos, esclareceu o promotor. Bastos reiterou por mais de uma vez que as duas cooperativas são sérias e responsáveis. As tratativas com as empresas devem culminar com o firmamento de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), visando a recrudescer ainda mais os parâmetros de qualidade.
Bastos reforçou que a situação da Piá requer uma análise ainda mais criteriosa, porque a cooperativa já havia assinado um TAC com o Ministério Público no início do ano. Se a falha de agora tiver ocorrido em decorrência do descumprimento de algum dos pontos firmados, a empresa pode sofrer penalizações. 
O presidente da Piá, Gilberto Kny, discorda da identificação de álcool no leite e destacou que o momento é o de tranquilizar o consumidor, pois não há nenhum lote com irregularidade no mercado. O diretor administrativo-financeiro da Santa Clara, Alexandre Guerra, disse que saiu tranquilo do encontro, ressaltando que os laboratórios da empresa são equipados para assegurar os padrões de qualidade exigidos.

Rio Grande do Sul adota programa de boas práticas na cadeia leiteira

Discutida ao longo do último ano, a conscientização de agentes da cadeia leiteira do Estado quanto à importância da qualidade da produção ganhou mais um aliado: o Programa Alimentos Seguros (PAS) Leite, lançado oficialmente na noite de sexta-feira, dia 8, dentro da programação do 41º Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária (Conbravet), realizado em Gramado.

As sucessivas identificações de fraudes, divulgadas desde maio do ano passado, não só reforçam a importância da iniciativa como determinaram, também, uma formatação específica de treinamento do programa – que já foi realizado em outros estados antes de chegar ao Rio Grande do Sul. No caso gaúcho, a qualificação terá um foco maior no elo que ficou marcado como o mais suscetível às irregularidades na cadeia produtiva, os transportadores.

Realizado a partir de parceria entre Senai, Sebrae e Ministério da Agricultura, o PAS-Leite deve começar a ser aplicado no mês que vem, explica a médica veterinária e fiscal federal agropecuária Ana Lucia Stepan, que atuou nas primeiras operações leite compensado e agora tem seu trabalho voltado para ações de desenvolvimento promovidas pela superintendência estadual do Ministério da Agricultura.

Ana Lucia explica que o PAS é um programa de boas práticas agropecuárias, cujos primeiros projetos-pilotos foram adotados em 2010. “Nos reunimos com o Sebrae e o Senai e concluímos que estava na hora de implantar aqui”, reiterando que o programa tem poucas mudanças nas práticas locais.

A primeira e mais importante delas é relacionada ao número de transportadores que devem participar do treinamento. A estimativa é de que o Rio Grande do Sul possua de 1,5 mil a 2 mil transportadores – entre esses há os que são contratados por indústrias e cooperativas e os que agem como intermediários, captando leite junto aos produtores e revendendo-os depois. Assim, o PAS-Leite prevê disponibilizar treinamento para 1,5 mil transportadores.

Na segunda etapa, os produtores passam pela qualificação, mais abrangente. Serão sete meses de um treinamento com características de consultoria, já que os produtores rurais passarão pela obtenção de conhecimento, seguido de um período de 21 dias para que adaptem as mudanças necessárias e só então recebem novamente os técnicos para avaliar a aplicação dos conceitos iniciais e iniciar novas etapas da qualificação. Tanto os transportadores quanto os produtores rurais receberão certificados ao final do treinamento. Uma fase final do projeto prevê o desenvolvimento de treinadores que irão disseminar as técnicas e conhecimentos trabalhados.

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