Ao
 andar pelas ruas da região, não é difícil se deparar, em calçadas ou 
descampados, com montanhas de entulho descartado irregularmente. Em 
cinco anos, os pontos clandestinos cresceram 106,9%, conforme 
levantamento do Diário. Em 2009 eram 261 locais onde havia descarte 
ilegal de detritos da construção civil, número que subiu para 540 neste 
ano. Os dados são referentes a quatro cidades: Santo André, São 
Bernardo, São Caetano e Diadema, sendo que São Caetano só informou o 
número atual. Ribeirão Pires, que tinha dez pontos em 2009, e Mauá não 
sabem quantos locais têm hoje e Rio Grande da Serra não respondeu. 
Segundo o coordenador da Abrecon (Associação Brasileira para 
Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição), Levi Torres, de
 todos os resíduos sólidos urbanos gerados, o entulho representa mais de
 50% e o número de pontos detectados pode ser ainda maior. “Devem passar
 de 1.500, pois, certamente, as prefeituras mapearam os locais que são 
mais visíveis.” 
 A falta de informação é tida como o principal motivo do aumento. “As
 prefeituras não dispõem de ações educativas para os cidadãos, fazendo 
com que destinem seus resíduos de forma incorreta”, disse Torres. 
 “A população não é avisada dessas coisas. É fundamental que o 
assunto seja esclarecido e o poder público não faz isso”, disse o 
coordenador do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos Sólidos da USP 
(Universidade de São Paulo) São Carlos e especialista em resíduos da 
construção civil, Valdir Schalch. 
 Em 2009, São Bernardo possuía 78 pontos de descarte irregular; 
atualmente são 175, aumento de 124,36%. Segundo a Prefeitura, nesses 
locais (geralmente beiras de córregos, vias públicas, terrenos e ruas 
não pavimentadas), 2.500 toneladas são coletadas por mês, contra 1.800 
toneladas nos nove ecopontos da cidade, que recebem até 1 m³ de 
resíduos. 
 Diadema tinha 50 depósitos clandestinos de despejo há cinco anos e 
agora tem 140, sendo 47 considerados críticos. O crescimento foi de 180%
 no período. Quatro mil toneladas de entulho são retiradas por mês tanto
 dos seis ecopontos quanto do descarte irregular. 
 Santo André foi a única que conseguiu reduzir os pontos em 14,63%, 
passando de 123 para 105. A conquista, conforme o Semasa (Serviço 
Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), é resultado da 
Operação Obra Limpa, ação conjunta das sete cidades da região reunidas 
no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. Por meio da iniciativa, as 
prefeituras cadastram empresas especializadas em coleta de resíduos, 
objetivando diminuir o descarte clandestino. A cidade recolhe cerca de 
5.000 toneladas de resíduos da construção civil por mês. 
 Em São Caetano há 120 pontos irregulares, onde são descartadas 429 toneladas de entulho mensalmente. 
 Mauá informou que não há número preciso de pontos de descarte 
irregular de entulho (2.500 toneladas são recolhidas por mês), mas que a
 incidência é maior em terrenos e margens de avenidas perto de divisas, 
como a Avenida dos Estados, no Capuava, e a Avenida Ayrton Senna da 
Silva, próxima ao Jardim Sonia Maria. 
 Ribeirão Pires afirmou que está em estudo a elaboração do mapeamento a curto prazo. 
 A disposição inadequada de resíduos é crime ambiental, passível de multa e detenção. 
 Reciclagem de entulho é solução barata, afirma especialista 
 Investir em usina de reciclagem de materiais da construção civil é 
uma medida viável, de acordo com o coordenador da Abrecon (Associação 
Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição),
 Levi Torres. “Uma usina de reciclagem custa, aproximadamente, R$ 3 
milhões. As prefeituras gastam mais de R$ 1 milhão por mês com remoção 
de entulho. É muito mais barato prevenir que remediar.” 
 Segundo ele, podem ser reciclados os resíduos oriundos de alvenaria.
 “Enviados para a usina, são britados e transformados em areia, pedra, 
rachão. Com esse processo, é possível desonerar as pedreiras e os portos
 de areia, uma vez que as duas atividades têm grande impacto ambiental.”
 
 Em Santo André, a madeira é 100% reciclada pelo Semasa (Serviço 
Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André). A iniciativa resultou
 em economia. “Do ano passado para cá, deixamos de gastar R$ 2 milhões 
anuais com a manutenção de ecopontos. Metade desse valor remunera os 
funcionários das estações de coleta e a outra metade vai para a limpeza 
do descarte irregular”, ressaltou o superintendente do Semasa, Sebastião
 Ney Vaz Júnior. 
 O restante do entulho reaproveitável é encaminhado para empresas 
especializadas. O que não pode ser reutilizado é destinado a aterro 
específico para resíduos da construção civil.