segunda-feira, 14 de maio de 2012

Alunos de escola estadual na Zona da Mata aprendem a reciclar alimentos



Talos, cascas, folhas e sementes dão um sabor especial às receitas, resultando em pratos saborosos, de baixo custo e altamente nutritivos
Bife de casca de banana, doce de casca de maracujá e torta de folhas e talo estão entre os alimentos produzidos pelos estudantes

Bife de casca de banana, doce de casca de maracujá e torta de folhas e talo. Não se trata de nenhuma aula de culinária, mas sim de Ciências. É cozinhando, que alunos da Escola Estadual Professor Gabriel Arcanjo de Mendonça, em São João Nepomuceno, aprendem não só Ciências, mas também Matemática e Português. Seja na cozinha de casa, em sala de aula aprendendo frações por meio das fatias de bolo e porções de iguarias, ou até mesmo escrevendo seu próprio caderno de receitas, que mais tarde se tornam trabalhos avaliativos por meio do projeto ‘Reciclagem de Alimentos’. Talos, cascas, folhas e sementes dão um sabor especial às receitas mais diversas, resultando em pratos saborosos, de baixo custo e altamente nutritivos e ainda colocadas para degustação e avaliação de professores, alunos, diretores, servidores da comunidade escolar e até familiares dos estudantes.

Coordenado pela professora de Ciências, Ivanízia Maria de Faria Moreira, o projeto existe há pouco mais de três anos. Em sala de aula, os alunos são estimulados a pesquisar sobre o valor nutricional, aproveitamento de alimentos, além de combate ao desperdício e à fome e ainda noções de cidadania. “Dividimos as turmas e usamos as aulas para a atividade, que entre outros quesitos avalia os alimentos usados, os nutrientes que trazem uma série de benefícios ao organismo e ainda a beleza dos pratos”, explicou Ivanízia.
Mas as aulas não se restringem às salas. Munidos de informações coletadas nas pesquisas, os estudantes vão para a cozinha de casa onde testam ou criam suas próprias receitas como conta Thelemaco Rezende, 16 anos, aluno do 2º ano do ensino médio e que participa do projeto desde o início. “Nesse ano, meu grupo e eu fizemos uma torta de talos de brócolis e almeirão e aprendemos como aproveitar o máximo desses alimentos, além disso, tivemos palestra, discussões e até trocamos receitas”, conta empolgado o estudante. Mas não foi só isso, o projeto mudou os hábitos alimentares de toda a família. “Por meio do ‘Reciclagem de Alimentos’ me conscientizei do valor nutricional dos alimentos e passei a incorporar esses hábitos no cotidiano da minha casa, até meus avós fazem as receitas”, revelou.
Luísa Bergo, 13 anos, aluna do 9º ano que participa pela segunda vez, conta como ela e seu grupo fizeram carne ensopada com casca de melancia. “Os pratos mais comuns são bolos e doces, escolhemos esse por ser diferente e interessante, o mais difícil foi picar todos os ingredientes bem fininhos, pois a receita é minuciosa”. Apesar da polpa da melancia não ser usada na receita, as estudantes seguiram a máxima da reciclagem e aproveitaram toda a fruta. “Para não desperdiçar nada também fizemos o suco, além do ensopado com a casca”, contou.
Luísa já tinha noções de aproveitamento dos alimentos apreendidas em casa, mas reconhece que o projeto ajudou. “Meus pais me ensinaram alguns hábitos de família, como cozinhar arroz utilizando água da beterraba e outros legumes ou fritar batata com casca, mas participar do reciclando potencializou ainda mais os conhecimentos”, avalia.
Durante as atividades, algumas descobertas surpreenderam até mesmo Ivanízia. “Os alunos descobriram pesquisando, que cascas de algumas frutas possuem mais nutrientes do que a polpa, como a casca de banana, que tem mais que o dobro de potássio, 0,9 g, em relação ao encontrado na polpa da fruta, com 0,4 g.”, revelou a professora. “Outro bom exemplo é a casca do abacaxi, que pode se transformar em xarope para combater doenças respiratórias como bronquite”, salientou.
Para Ivanízia, o ambiente escolar é fértil para trabalhar os valores de cidadania. “Vivemos num país rico onde, infelizmente, um grande número de pessoas ainda passa fome, na escola podemos trabalhar essas e outras questões com as turmas e o ‘Reciclagem de Alimentos’ é uma boa estratégia”, afirmou. “Além da questão pedagógica tem a interação com a comunidade escolar, com os pais, a mudança de hábitos alimentares e a oportunidade do estudante desenvolver o conhecimento que é levado para a prática”, comemora a professora.
Raio X do desperdício
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, sigla em inglês), cerca de um terço dos alimentos produzidos por ano no mundo é desperdiçado. No Brasil, as estimativas dão conta que anualmente desperdiçamos 26 milhões de toneladas de alimentos, sendo que cerca de 30% vai para o lixo e sem nenhum tipo de reaproveitamento.

Mais de 60% do que é plantado no país é perdido entre a colheita, processamento, transporte e hábitos alimentares. A cada ano esse número aumenta ainda mais e o valor total do desperdício é dividido: 10% na colheita, 50% no manuseio e transporte, 30% no abastecimento e 10% nos supermercados e na casa dos consumidores.
Os “campeões” do desperdício são as hortaliças, frutas, tubérculos e raízes, causando um impacto negativo na economia do país e do mundo. Vale lembrar que essas mesmas folhas ou cascas que são jogadas no lixo podem ser aproveitadas para se fazer bolinhos, tortas salgadas ou doces, sopas e caldos e várias outras receitas.

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