Representantes da Cúpula dos Povos apresentaram, ontem (13), uma carta
aos negociadores da Conferência das Nações Unidas sobre o
Desenvolvimento Sustentável (Rio 20) criticando a chamada economia verde
e a falta de avanços nas discussões pré-conferência. No texto, eles
afirmam que “não se está discutindo um balanço do cumprimento dos
acordos alcançados na Rio 92 ou como mudar as causas da crise
internacional”.
A Cúpula se manifestou oficialmente contra a
implementação da economia verde, um dos pilares da Rio 20. De acordo com
o grupo, este modelo econômico não diminui o extrativismo de
combustíveis fósseis, nem altera os atuais padrões de consumo e de
produção industrial. Eles afirmam que ela alimenta “o mito de que é
possível o crescimento econômico infinito”. Foi assim que terminou,
ontem, a última reunião do grupo de articulação da Cúpula dos Povos,
evento que ocorrerá entre 15 e 23 de junho no Aterro do Flamengo,
paralelamente à cúpula da Rio 20. No local, são esperadas 30 mil pessoas
por dia. Marchas também devem tomar conta do espaço.
Os
representantes dos movimentos criticaram medidas que estão na pauta das
discussões ambientais, como o mercado de carbono, de serviços
ambientais, de compensações por biodiversidade e o mecanismo de Redução
de Emissões por Desmatamento Evitado e Degradação Florestal (REDD ).
Também afirmaram que lutarão contra os transgênicos, os agrotóxicos, os
agrocombustíveis, a nanotecnologia, a biologia sintética, a vida
artificial, a geoengenharia e a energia nuclear.
Por outro lado,
eles defenderão na Rio 20 mudanças no atual modelo de produção e de
consumo, com o desenvolvimento de modelos alternativos; apoiarão a
agroecologia e a economia solidária, assim como os direitos à terra e à
natureza. Integrante do grupo de articulação da Cúpula dos Povos e
participante das rodadas de negociação em Nova York, Iara Pietricovsky
disse que, até o momento, não há consenso do que estará presente no
documento a ser apresentado na cúpula. Por isso, as negociações tiveram
que ser estendidas, e haverá nova rodada entre 29 de maio e 2 de junho.
“Há
400 colchetes no texto, ou seja, 400 pontos sem consenso. Só em 21
pontos se conseguiu um acordo, e são todos temas tangenciais, como a
questão da soberania e preservação dos oceanos”, afirmou Iara. Ela disse
que há uma tensão entre países quanto à tentativa de se instalar ou não
os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que, entre
outras metas, serão utilizados para promover a economia verde. Os
críticos desta proposta, entre eles a Cúpula dos Povos, afirmam que isto
enfraqueceria a reafirmação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
(ODM), cujo prazo termina em 2015, e até agora, nenhum país conseguiu
atingir suas metas. A retirada da discussão dos Direitos Humanos também é
fortemente criticada.
Um ponto polêmico é com relação à
governança ambiental. Os Estados Unidos lideram a manutenção do Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), enquanto que a Europa
defende a criação de uma agência ambiental. Já o Brasil decidiu apoiar o
fortalecimento do Pnuma. “Como está no meio do caminho, a defesa
brasileira parece que vai prevalecer — acredita Iara, que criticou a
postura do país. “O Brasil tem uma posição ambígua, devido às tensões
internas. A votação do Código Florestal é um claro exemplo disto”,
concluiu ela.
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