Movimentos sociais e ambientais que integram o Grupo
Facilitador da Sociedade Civil na Conferência da ONU sobre
Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) lançaram hoje (9), no Rio de
Janeiro, a campanha
nacional Não à Economia Verde. Entre os motivos da campanha estão as
faltas de conceito de economia verde, de posicionamento crítico ao atual
modelo econômico e da análise sobre a mudança da matriz energética dos
combustíveis fósseis para as energias renováveis no rascunho zero da
Rio+20.
A campanha Não à Economia
Verde faz parte do seminário internacional Outra Economia, Outro
Desenvolvimento, Outra Cooperação: a Sociedade Civil Rumo à
Rio+20/Cúpula dos Povos, que a Associação Brasileira de Organizações Não
Governamentais (Abong) promove até amanhã (10), na capital fluminense. A
campanha foi iniciada em abril deste ano, a partir do Fórum Social
Temático realizado em janeiro, em Porto Alegre (RS).
As ONGs apontam que não existe, na verdade, uma definição do conceito de economia verde no rascunho zero (draft zero) apresentado pela Organização das Nações Unidas (ONU) no final do ano passado. Esse texto ainda se acha em negociação e serve de base para o documento oficial da Rio+20, programada para junho, no Rio de Janeiro.
De
acordo com Ivo Lesbaupin, diretor da Abong, há um consenso de que a
economia verde, tal como está sendo proposta pela ONU, não coincide com o
que os movimentos sociais e ambientais consideram uma economia
sustentável. “A gente acha que, como está sendo defendido no documento
zero e em alguns estudos feitos pelo Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (Pnuma), o essencial, nessa proposta de economia verde, é
utilizar os instrumentos do mercado para enfrentar a crise ambiental”.
O
documento apela para as grandes empresas implementarem a chamada
economia verde. Lesbaupin destacou, porém, que a participação de
organismos multilaterais, como Banco Mundial (Bird) e Fundo Monetário
Internacional (FMI), entre outros, representa, no fundo, “pintar de
verde a mesma economia que nós conhecemos e que gerou o impacto
ambiental. Não há nenhuma crítica no rascunho zero ao modelo produtivo e
consumista que gerou a situação que vivemos hoje”, disse.
Lesbaupin
disse ainda que o documento não traz nenhuma análise sobre a mudança da
matriz energética dos combustíveis fósseis para as energias renováveis,
considerada pelas ONGs um elemento essencial no enfrentamento ao
desastre ambiental. “Esse tipo de economia verde, a gente tem que
combater”.
O diretor da Abong denunciou que a proposta
apresentada no rascunho da ONU visa a precificar, ou seja, colocar valor
monetário, nos serviços
ambientais e nos elementos da natureza. “Nós consideramos que isso é
extremamente perigoso. É levar o mercado para onde ele não está ainda,
para tornar isso fonte de lucro”.
Os movimentos sociais e
ambientais defendem, ao contrário, que esses espaços não podem ser
privatizados ou mercantilizados, porque são bens comuns de toda a
humanidade. “E a maneira de defender, de não destruir, é fazer com que
os governos e os estados façam respeitar esses elementos que são
fundamentais na natureza e os serviços ambientais. Não pode privatizar o
ar, a água, serviços ambientais em geral”. A intenção é lançar a
campanha “Não à economia verde” também em nível internacional.
A
expectativa de Lesbaupin é que os negociadores do conjunto de países
membros da ONU deverão chegar a um texto comum para debate na
conferência oficial, no Rio. O receio, enfatizou, é que a economia verde
“talvez seja o principal tema dessa proposta. Por isso é que nós
estamos fazendo essa campanha”.
O seminário será aberto
oficialmente esta noite, com uma conferência preparatória à Cúpula dos
Povos, evento organizado pela sociedade civil que ocorrerá em paralelo à
Rio+20. A ideia é mostrar a importância e o significado dos dois
eventos no atual cenário social, econômico e ambiental mundial. Amanhã
(10), quatro mesas redondas debaterão, além da economia verde, a
cooperação internacional, a economia que as populações desejam e a
sociedade alternativa que está sendo proposta, com a participação de
ONGs estrangeiras.
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