sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

DESERTICAÇÃO NA PARAÍBA

Ministério da Agricultura quer reverter áreas degradadas pela desertificação na ParaíbaO quadro atual é desalentador e preocupante: quase 72% dos solos agricultáveis na Paraíba estão em estado de desertificação. Para tentar reverter a situação, a Superintendência Federal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Estado (SFA-PB), através de sua Divisão de Política, Produção e Desenvolvimento Agropecuário (DPDAG), pretende agora mobilizar os produtores paraibanos.

Segundo Adalberto Soares,engenheiro agrônomo, lotado no DPDAG da SFA-PB e um dos participantes do curso “Uso, manejo e conservação do solo e da água, com ênfase no controle da desertificação no semi-árido brasileiro”, ocorrido entre os dias 14 e 16, nos municípios de Campina Grande e Lagoa Seca (PB), a preocupação com questão dos solos foi reacendida em meio aos 30 técnicos da Emater- PB que participaram do curso.

“Agora queremos dar continuidade a esse tipo de conscientização junto aos produtores”, diz Soares. Ele ressalta que a falta de conhecimento de práticas de conservação de solos por parte da maioria de produtores rurais no cultivo de culturas anuais como milho, feijão e plantas perenes como pomares em terrenos com declividades acentuadas, uso de agrotóxicos e implementos agrícolas inadequados são fatores, dentre outros, que mais contribuem para os processos de degradação dos solos na Paraíba, aliados ao manejo incorreto da pecuária extensiva.

Soares diz que não há solução em curto prazo. “É preciso conscientizar os produtores”. A situação da maioria dos solos na Paraíba foi classificada pelo Ministério do Meio Ambiente, quanto aos riscos de desertificação, como grave (14,76%) ou muito grave (57,06%). O curso da semana passada teve como objetivo capacitar profissionais de Assistência Técnica e Extensão Rural para atuar na difusão de tecnologias e de sistemas produtivos sustentáveis voltados para a recuperação de áreas degradadas e sua reincorporação ao processo produtivo, reduzindo os impactos ambientais.

Foram capacitados cerca de 40 técnicos, incluindo o pessoal da Emater-PB, que atuarão como multiplicadores das práticas de conservação do solo junto aos agricultores paraibanos. “Tendo em vista a gravidade das condições dos solos da Paraíba, a nossa ideia é levar as ações práticas do curso a todas as regiões do Estado”, afirma o pesquisador Odilon Reny Ribeiro, chefe de Comunicação e Negócios da Embrapa Algodão e um dos coordenadores do curso.

Reny informa que , além do curso, devem ser capacitados, nos próximos meses, cerca de 120 produtores. Os técnicos da Embrapa e da SFA-PB pretendem elaborar um manual técnico de boas práticas de manejo e conservação de solo e água.

Durante o evento foram abordados assuntos como o plano de ação nacional de controle da desertificação e diagnóstico socioeconômico e ambiental dos núcleos de desertificação; Importância do uso de práticas conservacionistas de solo e de água para o desenvolvimento sustentável na agropecuária; Composição, origem e formação do solo; Causas do desgaste e empobrecimento do solo; Erosão; Conservação e melhoramento do solo e práticas de controle da erosão (nivelamento, plantio em nível, faixas de retenção, terraceamento) e Controle de voçorocas.

Em Lagoa Seca, no campo experimental da Emepa-PB, foi feito um exercício prático de diagnóstico do perfil do solo. Os participantes também conheceram aspectos da relação solo-paisagem, além do planejamento do uso e a instalação de práticas conservacionistas com culturas anuais e perenes.

O curso foi promovido pela SFA-PB e pela Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e pela Embrapa Algodão e Embrapa Solos, com o apoio do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), do Instituto Nacional do Semi-árido (INSA) e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba .

A atividade agropecuária concentra-se basicamente na Zona Semi-árida do Estado da Paraíba, onde estão 80% do rebanhos de suínos, ovinos, caprinos e asininos; 67% do rebanho bovino; 78% da produção de leite; 90% do algodão; 80% do feijão; e 75% da produção de sisal. Nessas áreas, tem-se verificado um processo acelerado de degradação, principalmente, nas microrregiões do Curimataú Ocidental, Cariri Oriental e Cariri Ocidental, Seridó e Sertão. Na região do Brejo Paraibano, a expansão do cultivo da cana-de-açúcar e da pecuária extensiva tem acelerado o processo erosivo, aumentando a evaporação, provocando alterações climáticas conhecidas como “agrestização” do Brejo e assoreamento das várzeas. Nas Mesorregiões do Agreste da Borborema e do Sertão, verifica-se um processo de erosão dos solos utilizados na agricultura irrigada.