Moradores da região mais rica de Vitória pediram ao prefeito eleito menos concreto e mais qualidade de vida
Os moradores do pedaço mais rico de Vitória, Praia do Canto e
adjacências, se reuniram nessa terça-feira (28) com o prefeito eleito da
Capital, Luciano Rezende, para tratar dos principais problemas que
afetam a comunidade. Durante a audiência pública, a terceira da série de
nove programadas pelo novo prefeito, o que mais se escutou foi o apelo
por mais qualidade de vida e menos concreto.O uso e a ocupação do solo foram um dos problemas que ganharam destaque na audiência. As pessoas se mostraram preocupadas com o adensamento da cidade, causado, em parte, pelos novos empreendimentos imobiliários que se espremem na exígua área de pouco mais de 93 quilômetros quadrados da ilha.
A fala de uma das moradoras ilustrou bem a aflição dos que se sentem com a qualidade de vida ameaçada: “Estamos impermeabilizando a cidade com cimento e degradando as paisagens. Essa concentração de imóveis não é saudável e a situação já atingiu um nível insustentável. Há prédios grudados e superdimensionados. Peço que isso seja revisto em nome das paisagens e de uma cidade mais sustentável”.
Em outras palavras, a moradora, que teve seu discurso replicado nas vozes de outros participantes da audiência, disse não ao desenvolvimento a qualquer custo, prática que se tornou corriqueira por aqui desde que o Estado fez a opção por abrigar as grandes plantas industriais das chamadas “poluidoras” – as maiores responsáveis pelo processo de deterioração da sagrada qualidade de vida.
Como não podia ser diferente, não demorou muito para os moradores tocarem na polêmica que já cerca a expansão do Shopping Vitória. O professor e economista Arlindo Villaschi, um dos críticos do novo empreendimento, provocou o prefeito eleito: “Acho muito pouco provável que a sua administração queira colocar Vitória no mapa brasileiro com a ampliação do Shopping”.
Mostrando-se atento às demandas da população, Luciano tranquilizou os participantes sobre o empreendimento, que teve ser vetado ou não pela sua caneta. Ele assegurou que está acompanhado cada lance da discussão com uma “lupa”.
O gabinete itinerante, como já escrevemos neste espaço, é sem dúvida uma iniciativa positiva do prefeito eleito. De outro lado, ao abrir esse canal de interlocução direta com a população, o futuro prefeito cria uma expectativa muito grande nas pessoas e, com toda a certeza, será cobrado por isso.
Para não correr o risco de frustrar a população com questões polêmicas como a expansão do Shopping, o prefeito eleito precisará muito mais do que uma lupa.
Na audiência, ele deu pistas de que poderia resolver a complexa equação qualidade de vida versus desenvolvimento partindo de uma solução que vem sendo adotado em outras cidades que se defrontam com o mesmo dilema. “São duas coisas que podem andar juntas, contribuir uma com a outra”, simplificou.
No discurso, parece até relativamente fácil conciliá-las. Mas na prática esses dois conceitos têm se mostrado, muitas vezes, antagônicos, ainda mais se considerarmos o histórico do Estado que, ao longo dos anos, tem se mostrado subserviente às imposições dos interesses financeiros e pouco ou nada sensível às demandas da sociedade.
Sem falar que conceito de qualidade de vida é um tanto relativo. Para algumas pessoas, por exemplo, no caso do projeto de expansão do Shopping, o fato de a cidade abrigar um megacentro de compras cercado de prédios comerciais e residenciais por todos os lados pode representar a falsa sensação de desenvolvimento, modernidade e riqueza, quando na realidade estaria ocorrendo exatamente o contrário.
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