A ativista brasileira do Greenpeace Ana Paula Maciel, 31
anos, detida há quase dois meses na Rússia acusada de vandalismo,
divulgou nesta sexta-feira uma carta na qual pede que a população
reflita sobre o consumo desenfreado de petróleo. “Quantos produtos
derivados de petróleo você usou nesse último mês?”, questiona a ativista
na carta.
“Creio que não estariam indo procurar petróleo no Ártico
se não houvesse quem o utilizasse. Se fôssemos mais preocupados
em ser do que ter, usaríamos menos petróleo, a natureza estaria sob
menores riscos, os protestos pacíficos não seriam necessários, eu não
estaria presa injustamente”, diz a brasileira.
A Rússia acusou nesta sexta-feira formalmente de
vandalismo 30 tripulantes do navio Arctic Sunrise, do Greenpeace,
detidos após um protesto numa plataforma de petróleo no Ártico, mas
ainda não retirou as acusações de pirataria. A organização informou
também que o grupo foi transferido de Murmansk para São Petersburgo.
Segundo o Greenpeace, os ativistas presos, em contato
direto apenas com advogados e diplomatas, têm tido poucas chances de se
comunicar com o mundo externo. Quando isso acontece, as comunicações com
a família têm sido priorizadas.
Na carta, datada de 23 de outubro, Ana Paula também pede
que as pessoas “salvem o Ártico”. “Consumam menos para serem mais, usem
sacolas reutilizáveis, apaguem as luzes ao não usá-las, procurem
produtos com menos embalagem, usem mais as pernas e menos os carros.
Você não é o seu telefone celular, ele não diz nada sobre suas virtudes,
você não precisa do último modelo. Separe o lixo, recicle, conserte o
que quebrar em vez de comprar outro, informe-se”, escreveu.
Ela também agradeceu ao governo brasileiro pelos
esforços que tem feito por sua liberdade. “Clara Solon, da embaixada do
Brasil na Rússia é quase uma segunda mãe para mim. Tem sido impecável em
suas visitas, presença na corte, apoio psicológico e tudo o que está a
seu alcance”, disse.
Veja a carta de Ana Paula na íntegra:
Queridos leitores,
Me chamo Ana Paula e sou um dos 30 ativistas presos
aqui na Rússia. Hoje faz um mês que nos retiraram de nosso amado navio
Arctic Sunrise e, depois de dois dias em uma cadeia, três em outra,
agora estou sentada em minha cela na penitenciária para onde nos
trouxeram dia 29 de setembro. Tudo isso depois de um protesto pacífico
onde queríamos chamar a atenção do mundo sobre os perigos de danos
ambientais ao perfurar em busca de petróleo no Ártico.
Um mês que nossas vidas pararam, aqui sozinhos, tive
tempo pra parar e pensar e lhes pergunto, caros leitores: quantos
produtos derivados de petróleo você usou nesses último mês? Derivados de
petróleo são usados para fabricar muitas coisas e, sendo “coisas”
consumíveis, sofrem sob o efeito “procura e demanda” que as pessoas
ávidas pelo consumo compram, utilizam e descartam com uma rapidez sem
precedentes nos dias de hoje.
Nosso planeta, o que chamamos de casa, o único que
conhecemos com vida, está em crise e precisamos fazer algo
individualmente, todos os dias. Creio que não estariam indo procurar
petróleo no Ártico se não houvesse quem o utilizasse. Se fôssemos mais
preocupados em ser do que ter, usaríamos menos petróleo, a natureza
estaria sob menores riscos, os protestos pacíficos não seriam
necessários, eu não estaria presa injustamente...
Nem tenho palavras para agradecer a todas as pessoas
que se importam e que clamam por nossa liberdade. Gostaria de agradecer
especialmente o apoio do governo e do povo brasileiro que têm se
mostrado incansáveis em seu suporte pela minha liberdade. Clara Solon,
da embaixada do Brasil na Rússia é quase uma segunda mãe para mim. Tem
sido impecável em suas visitas, presença na corte, apoio psicológico e
tudo o que está a seu alcance.
Gostaria de fazer um apelo ao mundo e aos que se
importam: Salvem o Ártico! Consumam menos para serem mais, usem sacolas
reutilizáveis, apaguem as luzes ao não usá-las, procurem produtos com
menos embalagem, usem mais as pernas e menos os carros. Você não é o seu
telefone celular, ele não diz nada sobre suas virtudes, você não
precisa do último modelo. Separe o lixo, recicle, conserte o que quebrar
em vez de comprar outro, informe-se. Existem tantas mil pequenas ações
que podem ser feitas todos os dias para salvar o Ártico, a Amazônia, os
recifes de corais e todo o resto. Basta escolhermos bem o que comprar.
Nós todos e cada um de nós somos responsáveis pela mudança!
Promete que vai tentar. E eu vou saber que esse mês presa não foi em vão.
Com amor, Ana.
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