Qual deve ter sido o destino daquele seu primeiro carro ou - caso seja
ainda novo para isso - do veículo que seu pai utilizava para circular
por aí? Pensando positivo, ele pode ter entrado na irrisória estatística
de reciclagem de veículos do Brasil. Segundo o Sindinesfa (Sindicato do
Comércio Atacadista de Sucata Ferrosa e Não Ferrosa do Estado de São
Paulo), apenas 1,5% dos carros são reciclados.
O mercado brasileiro é um dos que mais vendem automóveis no mundo. No
primeiro semestre de 2014, o País ocupou o 5º lugar no ranking do setor
automotivo global, publicado pela consultoria Jato Dynamics, ficando
atrás apenas de China, EUA, Japão e Alemanha. No entanto, o destino dos
veículos que saem de circulação ainda é pouco acompanhado.
Análises de mercado estimam que 10 milhões de veículos da frota
brasileira estejam próximos da necessidade de reciclagem, mas a prática
sustentável, ainda recente no mercado interno, já se tornou
indispensável mundialmente. Nos EUA, uma empresa de reciclagem recebe
cerca de 600 mil veículos por ano, já no Japão, cuja atividade é
obrigatória, acontece o reaproveitamento de cerca de 3,6 milhões, com
grande parte destinada à exportação.
Para o diretor da Renova Ecopeças, Bruno Garfinkel, a reciclagem
automotiva vem, aos poucos, ganhando mais importância, no entanto, ainda
não é uma realidade no Brasil. Uma iniciativa para favorecer o setor
foi a Lei do Desmanche, que já está em vigor no Estado de São Paulo. Já a
lei federal com mesmo foco, de autoria do deputado federal Armando
Vergílio, deve vigorar a partir de meados deste ano. "A lei é abrangente
e atende às necessidades atuais do mercado, sociedade e Estado, mas é
evidente que algum ou outro complemento deva ocorrer, conforme o
surgimento de novas demandas", acredita Garfinkel.
O executivo explica que "85% de um veículo inteiro é reaproveitável
como peças de reposição, outros 10% são materiais recicláveis e somente
5% é totalmente descartável". No caso da Renova, cujas operações
comerciais são recentes - data de junho do ano passado - são trabalhados
os automóveis irrecuperáveis da Porto Seguro, Azul e Itaú, que
registram por mês cerca de 3,5 mil veículos com indenização total.
"Como a empresa ainda está passando por uma curva de aprendizado para
aprimorar suas condições de layout operacional e estocagem, em 2014 teve
um alcance de desmontagem de 100 a 150 veículos por mês, porém, a
capacidade de desmontagem da Renova é de 500 veículos por turno, podendo
chegar a 1,5 mil veículos desmontados em três períodos", diz Garfinkel,
dando ênfase à meta de longo prazo da companhia: fazer a reciclagem de
100% dos veículos salvados irrecuperáveis de São Paulo.
Para oficinas e consumidores, os preços de peças recicladas ficam entre
50% e 60% abaixo de uma nova original, o que beneficia a compra, tanto
por consumidores pessoas físicas quanto para montadoras, oficinas,
reparadoras e retíficas.
Rigor jurídico
A Lei do Desmanche tem sido aplicada de maneira rigorosa nesse mercado.
Os estabelecimentos que atuam na reciclagem automotiva devem ser
credenciados pelo Denatran e registrar a entrada e saída do veículo,
informar os dados do proprietário ou vendedor, identificar as peças,
além de precisar responder aos requisitos técnicos necessários, que vão
desde o modo de desmontagem até o perfil dos profissionais envolvidos.
Segundo balanço da Secretaria de Segurança Pública, divulgado em
dezembro, desde o início das fiscalizações, em 14 de julho, foram
realizadas 155 operações contra desmanches no Estado de São Paulo, com
747 empresas vistoriadas, das quais 411 foram fechadas pela venda
irregular de autopeças.
"A Renova iniciou operação em 2013, antes da Lei do Desmanche começar a
vigorar e, mesmo assim, já atendia a quase todos os aspectos que viriam
a compor o texto aprovado", pontua Garfinkel. A empresa recicla somente
os veículos que são irrecuperáveis, com final de vida útil, ou seja,
que saem de circulação com baixa definitiva no Detran, livres de
pendências financeira ou jurídica.
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