terça-feira, 18 de janeiro de 2011

TROCA SOLITÁRIA

A ideia, batizada de Troca Solidária, começou no ano passado com poucos participantes. O projeto ganhou força em 2010 e arrecadou cerca de 200 livros didáticos, 100 pastas além de uniformes infantis. Denise Durand Kremer, mãe dos alunos Rafael, de 6 anos, e Sofia, 9, é uma das organizadoras da Troca e conta que o projeto foi motivado “pelo momento que o planeta vive” e para recuperar o sentido do coletivo. “Todo ano compramos toda a lista de material e livros, muitas vezes sem necessidade. Há um glamour em ter todo o material novo que é pura falta de consciência”, avalia.


Com o apoio da escola, a Organização de Pais Solidários enviou e-mails, distribuiu cartazes e pontos de coleta de material nas unidades do Vera Cruz. Os pais também promoveram palestras e discussões com a preocupação de estimular em seus filhos uma visão mais econômica e sustentável do mundo.


Glayds Atchabahian soube da iniciativa ao buscar na escola o filho Caio, de 6 anos. “Reciclagem é comigo mesma. Sinto que as coisas não se perdem. O que não serve mais pra gente serve para outras pessoas ou pode ser reciclado”, lembra. Daniela Padilha, mãe de Maria Clara, de 8 anos, participa da Troca Solidária e conta que a prática é uma rotina em sua casa: “Minha filha entende e é super atuante. Não só com o material escolar, mas com roupas e brinquedos também. Se não usa mais, ela passa adiante”.


Para Fernanda Salles, membro da Organização de Pais Solidários e uma das responsáveis pelo plantão de arrecadação dos materiais, a família e a escola devem trabalhar o consumismo. “Consumir com consciência precisa ser ensinado. O que se ensina na porta da escola é tão importante quanto o que é passado dentro de sala de aula”, aponta.


Perdidos valiosos


Casacos de grife, aparelhos eletrônicos, estojos repletos de canetas novas, livros didáticos abandonados. Um achados e perdidos extremamente rico e cada vez mais encorpado. Diante do pequeno cômodo embaixo de uma escada, repleto de materiais valiosos, Vilma Martins percebeu que havia algo fora da ordem na Escola Nossa Senhora das Graças, no Itaim Bibi, onde seu filho estuda. “Não acho normal um livro de R$ 100 ficar largado, esquecido o ano inteiro. Levei essa reflexão para os pais, para que eles se conscientizassem e discutissem com os filhos sobre o valor dos pertences”, conta.


Da indignação diante do abarrotado achados e perdidos, surgiu o LivroLivre. A Organização dos Pais do Gracinha (como a escola é chamada) criou o projeto de arrecadação de livros didáticos e paradidáticos. “O foco é o consumo consciente e a economia que os pais farão é um acréscimo. O mais importante é a reflexão sobre a utilização do material”, completa Maria Cecília Cesar Schiesari, membro da associação.


A escolha do nome e do logo do projeto foram feitas pelos alunos do Gracinha. O projeto arrecadou 2.300 livros ao longo de 2010, que serão distribuídos gratuitamente em uma feira no próximo dia 11 de janeiro. Cerca de 800 livros que não estão na lista de material foram doados para uma biblioteca mantida pela escola no Jardim Angela, na periferia de São Paulo.


Parte do material arrecadado não poderá ser reutilizada, pois se trata de edições consumíveis, nas quais o estudante escreve diretamente no livro. Vilma conta que a Organização dos Pais do Gracinha pretende sensibilizar os professores para o problema. Para que deem preferência para livros não-consumíveis ou que apresentem alternativas para não inutilizar o livro, como escrever as resposta no caderno. As obras que farão parte do projeto receberão um selo e devem ser devolvidas ao final do ano letivo. “Os livros não têm dono. São livres”, explica Vilma.


Nesta primeira edição do LivroLivre cada aluno terá direito a retirar até três livros e terão prioridade na escolha os estudantes que tiverem contribuído com doações. Como os livros didáticos custam em média R$ 100, trata-se de uma economia de pelo menos R$ 300. “Precisamos quebrar essa cadeia do abandono dos pertences. Queremos despertar nas crianças a questão da solidariedade, da responsabilidade, de cuidar de um bem para o próximo”, resume Vilma.


Maria Cecília lembra que muitas crianças gostam de seguir a risca a lista da escola e começar o ano com o material totalmente novo. Suas duas filhas, que estão no 5º e no 8º ano, por exemplo, não têm o costume de usar cadernos do ano anterior, ao contrário das primas, que estudam em outro colégio. “Se a própria escola tiver um trabalho voltado para o coletivo e estimular a reutilização do material, acredito que os alunos vão começar a pensar diferente